segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Adeus...

Entava estafado, definitivamente. Entendeu quando leu no seu subnick: "Nem a vida é para sempre. Mas o amor é". Ele acreditava nisso, e justamente por isso, precisava deixá-la onde pertencia, ou seja, no passado.
Enquanto clicava com o botão direito sobre ela e rumava para clicar na opção "excluir contato", fazia um retrospecto do que ela foi na sua vida, o que ela representou e o que representa. Sem dúvida, o amor que ele sentiu foi verdadeiro, ao ponto de ter momentos em que quis desistir de tudo para ficar pra sempre ao seu lado... Um sorriso amargo vem aos seus lábios quando pensa nesses sonhos bobos, mas que lhe pareceram maravilhosos quando os sonhava.

E o que ela representou? Tudo. Era em torno dela que vivi os meses mais felizes da minha vida, em uma realidade talvez incompreensível a maioria das pessoas. Mas foram felizes, muito felizes. Pensa que cresceu muito com ela, assim como a tenha ensinado algumas coisas sobre a vida também, embora não seje muito mais velho. Ela representou um futuro possível, uma realidade que jamais se concretizará. Representou um sonho de um dia poder finalmente ser feliz.

E o que representa? Hoje? Mais nada. Não sente raiva, mas também não sente amor. Não, não. Talvez no fundo, ainda haja um pouco de amor. Amor pelo que foi, e não pelo que é. Mas hoje, o que sente sobre ela é um profunda e triste indiferença. Indiferença, cruel até.

Com uma imensa vontade de chorar, em um choro que não vinha, e uma tristeza ainda crescente, que parecia como um buraco abrindo, mais e mais no seu coração, como que um grande e definitivo vazio, ele a exclui. Não só do MSN, mas de sua vida, de uma vez por todas. Jamais vai se esquecer daquela baiana que iluminou seus dias por quase um ano de um sonho de amor que, infelizmente, jamais iria se concretizar.

Sussura: "Adeus, meu amor."

sábado, 21 de novembro de 2009

Sob o Sol...

As nuvens cinzentas ainda passeavam pelo céu nublado quando, mesmo sob os gritos de protesto de seu pai, pegou o colchão velho que fora seu e, levando-o para fora, esticou-o no quintal e deitou-se sobre ele. Queria apenas estar confortável para observar o céu e suas nuvens cinzentas, e assim o fez. Devagarzinho, vai abrindo os olhos, já que seus olhos eram sensíveis a excesso de luz. Mas quando, ainda em meio as lágrimas que escorriam involuntariamente dos olhos, ele pode enfim observar o céu, senti um frescor percorre-lhe o corpo. A chuva começava então a cair sobre ele e seu colchão velho.

Ali ficou por alguns minutos. Encharcado, mas não ligava muito. Queria dizer que estava feliz, mas não sabia se era isso que sentia ali, naquele momento. Nunca tivera muita certeza das coisas (o que acreditava ser bom, pois certeza é verdade e pra ele a verdade sempre foi muito relativa). Era uma sensação estranha, mas sentia que, de algum modo, era boa. Algo como uma libertação, ou qualquer outra palavra que exprima o abandono de algo e o recomeço... O exato momento em que você podia dizer que recomeçara.

Sente as lágrimas escorrerem de seus olhos novamente. Não pela luz do céu, não, não mais por aquela luz. Mas por uma outra luz, e essa vinha de dentro. Uma chama de esperança... Enfim, não procurava explicação para o que sentia, apenas sentia. Queria sentir, queria viver cada segundo daquilo. As lágrimas se misturavam às gotas de chuva em sua face, escorriam, iam... Era, sim, uma libertação.

A chuva passa, e vem o frio. Levanta-se calmamente, ainda com as roupas pesadas. Recolhe o colchão (agora, ensopado), e se vira para observar o céu. As nuvens ainda estavam lá, embora pudesse perceber um Sol, ainda que fraco, lutando com as massas cinzentas para poder aparecer. Era uma visão bonita, quase que como se Deus estivesse abrindo um canal direto com a Terra. Nesse mesmo instante, sente uma brisa de vento, arrepiando-o todo. Observa a si mesmo: roupas pretas encharcadas, descalço, descabelado. Suas mãos tremem. Olha pra baixo e vê a si mesmo na poça de água...

Olha de novo para o céu e compreende. Sim, a vida é feita disso. Finalmente entendeu que era pra ser assim, as coisas são assim e de novo será. É um novo viver, uma nova dimensão da vida e do que é viver. Sabe que não será tão fácil, que oscilará, que chorará, que sofrerá... Mas segue ainda assim, porque enfim entende que a vida é feita disso. E a cada obstáculo que supera, é uma lição aprendida e uma nova oportunidade de fazer certo.

Não pôde conter as lágrimas quando, após pensar em tudo isso, o Sol surgiu finalmente...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Buzz..

O calor é quase insuportável no Rio de Janeiro esses dias. A manhã tinha sido normal em mais um dia de estágio na escola e estava tudo bem. Ao chegar em casa, por volta de 14h, descobre que a carta de seu amigo havia finalmente chegado. Sobe e não espera nem trocar de roupa: abre o envelope. Relê a xerox da carta que enviou, mais pra relembrar o que disse mesmo. Então pega a do seu amigo e lê. Carta bonita, simples, com palavras reconfortantes. Guarda-a com carinho na gaveta de sua mesa para respondê-la mais tarde.

O calor continua, resolve ir para o quarto. Humm... Não sabe ao certo, mas ao o incomoda. São 16h e, mesmo sabendo que a noite teria aula da disciplina mais insuportável do semestre, torce pra dá logo a hora de ir pra faculdade. Algo o incomoda. Uma inquietude se abate de repente. Anda de um lado para o outro no quarto, sem saber o que fazer, o que sentir. Mexe em uns livros, escuta algumas músicas... É, estranho... Tá faltando algo.

Então escreve, escreve porque lhe pediram pra escrever. Como terminará o dia? Vejamos...

***

Quatro horas mais tarde. É, a noite terminou bem melhor do que esperava. Em meio a fala enfadonha do professor, aquela troca de olhares, sorrisos cínicos e, finalmente, uma troca de bilhetinhos. Mensagens sublinares a parte, sabe o que virá depois, e gosta disso. Vai pra casa sorrindo... É, a noite terminou bem.

Ponto pra Arlene. xD

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

AHHHHHHHHHH!

Tento, tento e não saí nada. Acho até que estou virando um escritor melhorzinho, já que estou tendo até crise de "falta de criatividade". Sabe que quer escrever, mas não faz nem idéia do quê. "Ô Róli Chiti"!

Tenho estado tão cansado ultimamente. Tão cansado. Mas ao menos o cansaço é bom para sonhar: fico sonhando em ter tempo pra estudar (o que não tenho); fico sonhando em viajar para o Canadá; fico sonhando com uma vida amorosa descente; fico sonhando com tempo, em ter tempo para mim... Aí penso que semana que vem é semana de provas e fico maluco pensando no que tenho por fazer no estágio (além dos problemas burocráticos que me fazem arrancar os cabelos duros!)... Aí Deus, juro que eu só queria um tempinho pra viver...

Ando meio sem tempo pra tudo. Além das dores de cabeça (físicas e emocionais). E ainda por cima me sinto tão só, tão só...

Putz, melhor terminar por aqui.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"Chegue bem perto de mim. Me olhe, me toque, me diga qualquer coisa. Ou não diga nada, mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada."

- Caio F.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A crônica de uma noite crônica.

Não foi uma noite fácil. A princípio, tudo parecia bem, parecia ótimo, e por muito, assim continuou. Somente aquele friozinho chato na barriga, como já sentira outras vezes. Normal. Pisava com cautela em terras estrangeiras, em territórios inexplorados no coração. Um certo medo de se frustrar, algo assim. E essa mania chata de fantasiar coisas irreais, devaneios? Enquanto pegava o trem (que sonhava que fosse como os europeus), ainda estava incerto do destino, pensava em desistir, deixar pra lá. Mas nem se quisesse, poderia. Deveria, e até mesmo queria, ir até o fim. Que seja.

***

Pela janela imunda do trem, se vê a chuva começando a cair. Cair forte. Não chovia a dias, mas tinha que ser hoje? O tempo já prometia, nublado, a uns três dias. Tinha que ser. Mas foda-se. O calor dentro do trem já estava deixando zonzo. Odiava tudo aquilo: pessoas, lugar pequeno, sacolejar do vagão nos trilhos, as vozes irritantes, os gritos dos ambulantes, o ar já respirado... Estava quase desenvolvendo uma claustrofobia graças ao Metrô e lugares como aquele.

Viagem interminável. Embora fosse um trem “direto”, parava mais do que o trem normal. Tentava diminuir a irritação, enquanto pensava no que viria no resto da noite. Chegou, e chove. Muito!

***

Agora estava encharcado. Mas encharcado mesmo, da cabeça aos pés. Sua fantasia de príncipe encantado, vindo de um reino muito, muito distante, para visitar a princesa se desfez em questão de segundos. Tudo o que não podia molhar está na sua mochila: o livro (que era um presente) “Pra sempre teu, Caio F.”, um livro de Sartre, uma cópia do projeto de mestrado do seu professor, o Panda de pelúcia, etc. Não tinha 2 centímetros do corpo seco. Ônibus lotado, ainda por cima. Pessoas úmidas, molhadas, encharcadas. Calor. Ruas completamente alagadas. Vinte minutos pra chegar até a pracinha escura que precede o Teatro.

***

Olhava no espelho: estava imundo, suado, molhado, descabelado, fedorento. Tirava as duas blusas que vestia, enquanto pensava em como demorou pra escolher a droga da roupa pra essa noite, e agora ela estava assim, podre. Espremia as duas, até tirar todo o excesso de água (muita, muita água).

Olha no espelho novamente: ainda está horrível, mas menos molhado. Puta que pariu...

***

Entrava no Teatro quando, logo na entrada, vê uma figura de cabelo conhecido. Afagou a cabeça dela, subiu e se sentou. Ela o observou e seguia. Abraçava-a com carinho, úmido, mas com muito carinho. Ela comentou com um sorriso o estado dele, e nesse instante estava agradecendo a Deus por estar ali, com ela.

Aliás, ótimo espetáculo...

***

A chuva ainda caí, as ruas ainda alagadas, mas o pior ainda estava por vir: a escuridão. De repente, as luzes do teatro ficam em modo de emergência. Descobre-se que em toda a parte falta energia. E agora? Tão longe de casa, fudido.

Então estava com o grupo de amigos (dela). Todos juntos, pra evitar o perigo. Hobbes tem toda a razão: o Homem é o lobo do Homem. As pessoas não estavam preocupadas se a energia voltaria algum dia, quando voltaria, como iriam pra casa. Queria era chegar em casa, vivas, sãs e sem que tenham sido roubadas. Medo, medo que se instaura nos corações do Homem, medo do outro homem. Onde chegamos?

***

Vendo que já não valia a pena, estava decidido a partir. Meio "estranho no ninho", sabe? No íntimo, torcendo pra ir logo pra casa. Não por medo (do escuro ou dos “lobos”), mas com um insistente mal-estar. Um mal-estar que já sentira antes, numa ocasião parecida. Pena, que pena. Não deveria ser assim, mas era.

Despedida tranqüila. Nada demais, embora fantasiasse um pouco (até nisso). Depois corria, sem nem olhar pra trás. Gostava dela, gostava demais dela.

***

E o mundo se apagou. De verdade. Ao menos era o que parecia. Luzes aqui e ali, mas não havia luz, nem nos postes, nem nos semáforos. Pegava o ônibus e desejava chegar logo em casa. Fazia promessas tolas, pensando num futuro que não seria. Devaneios, mais deles. E o ônibus foi, em meio a trevas, com um feixe de luz em meio a escuridão...

***

Casa, finalmente casa. Abraçava o pai, dizendo que estava tudo bem. “Onde está a mãe?”. Nem mesmo havia terminado de trocar de roupa, quando, de cueca, ligava para sua amiga. Melhor amiga. Única, talvez.

Fora ela, essa conversa, que fez o seu dia terminar bem. Pois em meio a tristeza dos problemas do coração, havia as brincadeira. E melhor que isso, a chance de ser útil a alguém que ama tanto. Dizia a ela que tudo ia ficar bem, e acreditava nisso. Dizia-lhe que estaria sempre ali pra ela, pois de fato, jamais a deixaria. Faziam planos bobos, mas divertidos e que, se não virasse realidade, pelo menos tinha um sabor doce do sonho. “Que seja doce”.

***

E depois de comer um miojinho, em meio as trevas, dormia. Dormia pensando em tudo, e pensando em como a noite não foi fácil. Mas tudo bem, amanhã será um novo dia. E uma chance de fazer tudo diferente de novo, quem sabe. Não sei. Só sei que nunca mais pegaria uma chuva daqueles, mesmo que tivesse que ficar preso dentro de um quarto escuro (e coberto). E que a escuridão, embora apavorante a princípio, eram até reconfortante agora...

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

"(...) sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor? Pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo... Meu Deus, como você me doía de vez em quando! Eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça, então, os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calado um tempo enorme só olhando você sem dizer nada, só olhando e pensando: "Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando."

(Caio Fernando Abreu)
Eu faço Estágio Supervisionado I numa escolinha particular aqui perto de casa. Como estagiário I, minha tarefa é unicamente observação da dinâmica da sala de aula, e ajudar o professor supervisor quando solicitado. Embora estagiário, sou tratado pela direção e pelos alunos como professor, e gosto disso. Com o tempo fui me aproximando mais dos alunos e do supervisor, ao ponto dele me encarregar de tirar dúvidas dos alunos, e outras tarefas, que a princípio podem parecer bobas, mas que fazem a minha auto-estima grande diferença.

Tenho alunos da 6º ao 9º ano. Particularmente acho mais legal o trabalho com a turma do 9º, por ser uma galera mais velha, e de cabeça em formação. Mas em contradição, adorava as crianças do 6º ano. Mas amo a todos, de coração.

Eis que nesta quinta-feira, dia de estágio, quando vou pra escola, descubro que uma das alunas do 6º ano, Verônica, morreu nesta sexta-feira de aneurisma. Tinha 10 ou 11 anos. Era uma garotinha tímida, mas falava bastante com as amigas. Não tive muita oportunidade de me aproximar dela, mas nos tratávamos com respeito mútuo.

Hoje estou com uma dor estranha. Nem tinha tanta intimidade com ela, mas não sei explicar, só sei que esta dor existe e tá aqui, no peito. Essa dor de saber que na próxima quinta-feira, quando entrar naquela turma de 6º ano, estará faltando uma aluna. Não sei... Ah, essa dor estranha.

Onde estiver, Verônica, e se está em algum lugar, descanse em paz.

sábado, 31 de outubro de 2009

Moonlight Sonata..

O som do piano parece distante, mas ao mesmo tempo tão próximo. A harmonia, ritmo e sinfonia de Ludwig me assombram. A cada nota, sinto meu coração vibrar, aos poucos tomando a forma de uma sinfonia há tempos esquecida... Sim, a bela música faz-me perder-me em mim mesmo. Imóvel, contemplando as cenas de um passado esquecido, de um presente não vivido e de um futuro nebuloso, mas lindo. Ah, a música e seu som limpo e forte, doce, faz-me sentir ainda mais entorpecido em mim...

Toca a alma, profunda e delicadamente. Um toque quente, de conforto, de uma estranha paz, mas de uma escuridão estranha. De uma imprecisão terrível. Arrepio-me a elevação do ritmo. Arrepio-me ao perceber o que a música está a fazer... Esses toques tristes, profundos, essas levadas espontânea, de uma alegria súbita; Vejo seus olhos e sorrisos em meus devaneios... "Quem és, bela de meus sonhos?", pergunto num delírio. O silêncio e seu sorriso foram respostas, mais que suficientes.

O compasso diminui. O final se aproxima. E as notas tornam-se cada vez mais expressivas, mais profundas, mais delicadas. E causam de novo a estranheza da dor e o prazer... E Beethoven chora.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Falsa Moralidade

No último dia 22, numa faculdade de São Bernardo do Campo, uma jovem estudante de Turismo foi hostilizada por estar usando um vestido vermelho curtíssimo (microsaia, como chamam). Aos gritos de “Puta! Puta!”, a jovem teve de ser escoltada pela polícia para fora da faculdade, sob o risco de ser agredida pelos estudantes. Por estar usando um vestido curto.

Vídeo

Hipocrisia, falsa moralidade. Quando eu falo de tais temas, me refiro a fatos como este. Que absurdo é esse?! Hostilizar uma estudante por estar se vestindo de modo inadequado segundo os padrões sociais (sim, pois a faculdade não tem regras específicas quanto a isto) me deixa tão chocado quanto a centena de outros brasileiros de opinião similar a minha. É a este ponto que chegamos? Tanta coisa pelo que brigar, tanta coisa pelo que se mobilizar, e é por ISSO que os estudantes se unem? Se tais estudantes tivessem a mesma disposição pra lutar contra a corrupção de Brasília ou pra pressionar a saída de Sarney do Senado, o Brasil não seria esse poço de lama em que vivemos. E por mais que se evite a lama, você acaba se sujando, uma hora ou outra.

Estou assustado, de fato. Assustado pelo que vejo no meu país, e com medo do futuro. Hoje, especificamente, não sei se canto o Hino Nacional com o amor que deveria.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Frases..

"E de novo acredito que nada do que é importante, se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instântes, dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser para sempre." - Shopenhauer

"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso." - Pessoa

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo." - Lispector

"Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente." - Veríssimo

"Sofrer e chorar significa viver" - Dostoiévski

"Só podia encontrar a felicidade se conseguisse subverter o mundo para o fazer entrar no verdadeiro, no puro, no imutável." - Kafka

"A alma resiste muito mais facilmente às mais vivas dores do que à tristeza prolongada." - Rosseau

"Cada homem deve inventar o seu caminho." - Sartre

"Os homens nunca usaram totalmente os poderes que possuem para promover o bem, porque esperam que algum poder externo faça o trabalho pelo qual são responsáveis." - Dewey

"Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no coração e sorriso nos lábios." - Luther King

Fantasia.

Não, já me cansa escrever sobre os dias cinzentos. Então o que faço? Espero a tormenta passar? Mas e se demorar?

Não. Se não tenho os dias de Sol, pelo menos os fantasio. Fantasia... Ah sim, doce fantasia. Fantasia alimenta a alma, dar aquela sensação de prazer tão intangível quando aquela de quando se come chocolate. Mas se não tomar cuidado, o gosto da fantasia pode ser amargo, então é importante sempre deixar claro que é o que é: fantasia.

Fantasio, sem hesitar, os dias de Sol. Não espero que se tornem reais, mas a fantasia me alimenta por hora. Pensar na felicidade, na alegria de viver. De como é acordar cada dia querendo viver; de como é viver sem a angústia de viver... Ah, a quanto tempo não sei o que é isso. A verdade, se é libertadora, também é angustiadora. Sim, pois a liberdade, as escolhas, a responsabilidade de ter que se tomar decisões importantes não só por você, mas pelos outros, isso sim é angustiante. A angústia faz parte da essência do ser, que cede a existência, quando o homem entende que é, que existe, antes de mais nada.

Lá vem a Filosofia outra vez. Desculpem, não consigo evitar. Maldito vício, maldita paixão arrebatadora, essa Filosofia. Um vício tão doce, tão especial, que me faz entender o mundo como nunca havia entendido, que me faz perceber que tudo é tão maior do que pensava e que ainda tenho tanto a aprender...

Ah, mas e os dias de Sol? Sim, os dias de Sol e felicidade. Amigos especiais, palavras de amor... pequenos sunshines que me lembram que há, sim, um Sol, imenso, lindo e revitalizador, atrás das nuvens cinzentas. Ah, sim. E um dia, baterão ventos tão fortes vindo do mar, que levaram estas nuvens, e poderei me banhar no Sol outra vez.

Num Sol que me trará, enfim, a alegria de viver.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Esperar pelo que não foi, pelo que quer que se seja. Por algo bom, muito bom, e feliz, pra você e pra mim. Espero, não tem problema. Teremos nosso tempo.

Pra Rafinha

sábado, 24 de outubro de 2009

Sinto sua falta, Amor

Sinto, sinto tanto. Sinto que o Amor se foi. Fez suas bagagens e partiu, como se nada devesse, nada quisesse e nada deixava para trás. Partiu, partiu... E sinto sua falta. O vazio aumenta, os sentidos se ampliam, na vaga esperança de captar algo diferente nesta triste e pobre realidade. O vazio, sim, o vazio. Não simples vazio, não só algum poço sem fundo, mas um vazio de úlcera, que corrói, e aumenta, aumenta... Até que a dor se torne tão insuportável que já os anestésicos “emocionais” não resolvem: o abraço do melhor amigo, o beijo na testa da mãe, o “obrigado” dito pelo desconhecido no metrô, o sorriso de uma criança pra você, o aceno de um soldado em guarda, o “bom dia” do seu Zé da padaria, o beijo da menina que se curte, o elogio da professora...

E o Amor se foi, sem olhar pra trás. Sinto falta do Amor, de amar. Saber que se é amado, que se é especial para alguém, saber que há alguém pensando em você. Sim, também sinto falta de sentir tudo isso por outro. Costume? Comodidade? Talvez... Mas era bom, me fazia bem, lhe fazia bem, e o Amor tinha uma casa confortável no lugar mais bonito do meu escuro coração.

Buscar o Amor, mas como, se não sei pra onde foi? Ele chegou em casa deprimido, jogou tudo em sua bagagem e se foi, sem nem olhar para trás. Mas o Amor se foi, se foi de bagagem e passagem na mão.

Passagem só de ida.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Desejo

E o desejo. É forte, intenso, muito intenso. Cego, excepcionalmente cego. Mas é desejo, oras! Desejo é desejo: se ama o desejo, e não o desejado. Penso e rio sobre tudo isso. Seria cômico, se não trágico. Mas nada, é brincadeira, coisa de universitário idiota.

Desejo, simples desejo. Desejo de ter, de tocar, de abraçar, se possuir, de sentir. Desejo de desejar. Saber que não se pode ter é pior do que não desejar. Pois desejando se fantasia, ah, e como fantasia. O ser humano tem a irritante mania de fantasiar histórias, sensações e desejos, especialmente desejos. Fantasia-se porque não se tem, não se tem porque não há como ser.

Dou outro sorriso e bebo mais um gole da vodka que desce mais uma vez queimando a garganta, pensando no desejo. Tê-la seria demais, seria irreal, quase que um momento em que ultrapassa as fronteiras do espaço e tempo para viver uma realidade metafísica. Pois o desejo é impossível. Impossível? “Improvável” seria mais correto. Muitíssimo improvável, ao ponto do absurdo. Mas desejo é desejo, desejo é pra ser desejado. Desejo pra ser fantasiado e satisfazer o ego nas noites frias em que se pensa na merda de vida que se tem.

Desejo é desejo, vivido ou não. Surreal, irreal. Mas o desejo, ah, o desejo. Ele sim alimenta a alma. Se não alimenta, engana a fome de ter. Ter, possuir, poder. Tocar, beijar, abraçar, afagar. Ter. Esse é o desejo, o desejo do irreal, do desejo do impossível, o desejo de tê-la.

Obrigado por me ensinar o que é o desejo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Sem mim, sem nós; sensível.

Tem dias que viver dói até os ossos. Arde. Incomoda feito farpa no dedo. Em dias como esse cada passo demora um século, cada palavra equivale a mil, e todos os sentimentos se juntam num turbilhão. As horas não passam. As pessoas não aparecem. O telefone não toca. Você anda pela casa apagando luzes, procura refugio em todos os quartos, zapeia pelos canais de TV, revê fotos, lê cartas, manda torpedos, assiste a filmes; nada te satisfaz. Nunca. Porque naquele momento viver dói tanto e essa dor te consome tanto que você chega a pensar que é tudo. Fecha os olhos e tenta imaginar qualquer coisa boa para conseguir dormir; o sono não vem e a tal coisa boa também não. Em dias assim tudo é grande demais e pesado demais e dolorido e triste e decepcionante. Em dias assim você se decepciona. Em dias assim, eu escrevo. Rabiscos inoportunos e mil folhas rasgadas; sempre em terceira pessoa. Em primeira pessoa fere demais. Revela demais. Deságua. Apontar o outro é mais seguro. Posso até fechar os olhos, em paz, e contar tudo como se a história não fosse minha, como se as Clarices e Helenas e Luizas, de fato, existissem e vivesse tão dolorido quanto eu. Às vezes viver é um tapa na cara. E não interessa de onde vem a mão e se, ela, teve motivo. Que me interessa a porra de um motivo? A mim não importa os motivos, os princípios ou a culpa. Ta doendo, caramba! Ta doendo como fratura exposta, álcool em dedo cortado, puxão de cabelo, mão na tomada. PUTAQUEPARIU! Em dias assim... Em dias assim EU GRITO! Em dias assim vale tudo. Canto para os surdos, corro de encontro ao nada, te esqueço milhares de vezes, me esqueço o dobro, viro fumante, viro alcoólatra; viro poeta. Em dias assim eu escrevo — disse Ela.
Em terceira pessoa fica mais fácil.




"Escolha feita, inconsciente, de coração não mais roubado”

Texto da Carol, do blog Arlequim.

domingo, 18 de outubro de 2009

Angústia!

Sim, Angústia! Eis que se revela então! Angústia... Sim, a doce e amarga Angústia. Traduzir sua dor foi tão difícil, quase um parto emocional... Mas enfim entendo e vejo: Angústia.

Todos os dias, aquele medo, aquela solidão, aquela aflição do "não-sei-o-que"... Agora entendo e vejo que eram as máscaras da Angústia. Sorrateira, já invadiste meu coração antes, mas lhe expulsei e prometeu nunca mais voltar. Mas voltou. Em algum momento, abrigou-se de novo ali. Vestida de cinza, que lhe caí muito bem, ela embora tão imponente e poderosa, mostra-se tão dependente de mim.

Não, não, querida Angústia. Devo pedir para que se vá, voltar para o lugar escuro e frio de onde veio. Não é aqui o seu lugar, e já não posso mais lhe abrigar em mim. Porque me dói, todos os dias, em todos os momentos, então te peço, minha doce Angústia: vá. Pois, embora me seja cruel, eu te gosto, mas não posso, não quero. Alimente-se de outro espírito fraco, vá! Vá e não volte, pois o meu espírito já arruinaste.

E das cinzas em que deixaste meu coração, tento fazer-lhe novo. E que das cinzas, como a Fênix, possa surgir algo bom, tão bom, pra mim. Pois não posso, não quero mais a Angústia. Meu coração já não é seu, e não será de novo. E se voltar, lhe expulsarei novamente. Pois os estragos que fizeste são quase todos remediáveis, e os que não são, dá-se um jeito. Mas não lhe quero mais. Quero viver, quero coisas boas, quero a cor das coisas, a cor do mundo. Quero ser feliz outra vez, e vou ser.

Pois meu coração não será seu, Angústia. Não será.

Rumo à solidão

Não diga o que eu devia fazer.
Só escute, se for capaz, as minhas palavras mudas.
Ouça, se for capaz, tudo o que eu digo sem abrir a boca.
Sinta se for capaz, a dor que eu sinto sem gemer.
E descubra, se for capaz, o segredo que eu tenho sem nunca sabê-lo.

Não diga que tudo irá dar certo
sem antes me apontar o caminho mais curto para a solidão
e não diga
que a solidão não existe
pois é, na verdade,
o próprio caminho a se trilhar.

Eu já não tenho mais nada a fazer
a não ser atravessar essas portas fechadas
e chegar ao outro lado
com aquela falsa sensação de vitória.

E não há uma vitória sem uma gota de lágrima
mesmo que seja invisível.
E não há uma gota de lágrima sem uma dor
mesmo que seja fraca.
E não há uma dor sem uma mágoa
mesmo que seja esperada.
E não há mágoa sem a morte de qualquer coisa
que se amava
mesmo que não seja física.

E o meu próprio-amor-próprio
é a invísivel e fraca espera do não físico
do abstrato e diluído no espaço
que está por trás daquilo que é sólido.

E o que é a solidão
a não ser esse ser não sólido
que vive a nos espreitar
num canto da sala?

Mas não há um amor-próprio sem um egoísmo
mesmo que seja domado.
Mas não há um egoísmo sem uma raiva
mesmo que seja calma.
Mas não há uma raiva sem um desejo de destruição
mesmo que seja tolerante
de tudo aquilo que é humano.

E a minha tristeza
é o tolerante e calmo domínio
que tenho sobre tudo aquilo
que é desumano em mim.

E o que é o caminho
a não ser essa estrada insegura e torta
sobre o tapete colorido da sala?

Não esperava essa agressividade
em tua cara.
Não contava com esse pouco caso
em teus olhos.
Não aguardava essa arrogância
em tua casa.
Não pressentia essa decepção
em meu peito.

Agora deixe despedir-me de tudo aquilo
que é vibrante e claro em sua essência
para que não haja nenhuma saudade
do que eu não tenha visto nesta descendência.

E assim sigo rumo à solidão
que não é depressão
e sim o som de uma densa música
e seu refrão.
E assim sigo rumo à solidão
que não é suicídio
e sim a esperança de uma longa felicidade
e seu início.

Marcio Rufino

sábado, 17 de outubro de 2009

Qual é o problema?

“Portanto, o que é a verdade? Uma multidão de metáforas, metonímias [...] enfim: uma soma de relações poética e retoricamente potencializadas, transpostas e ornadas e que, depois de longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões sobre as quais se esqueceu tratar-se de metáforas que se tornaram usadas e sem força sensível, moedas que perderam seu valor e agora são consideradas apenas metal, e não mais moedas.”
Nietzsche

Discutir religião sempre foi complicado. E ainda é. Há pessoas que acham a idéia de debater o assunto simplesmente absurda (ninguém gosta de ouvir críticas à própria religião, e menos ainda de ser criticado por ser de determinada religião). E não existe motivo para tirar a razão delas, já que discutir religião ressalta as diferenças ao invés das semelhanças. No entanto, existe o direito de discutir o assunto, assim como existe o direito de liberdade de expressão. Logo, debater ou criticar religiões é um direito de todos, mesmo que muitos abram mão desse direito para a manutenção da (boa) convivência.

Evangélicos, católicos, panteístas, ateus, agnósticos, Testemunhas de Jeová, cada um tem sua(s) opinião (ões). Quando existe o desejo, a intenção de emitir essa(s) opinião(ões), não é em qualquer lugar e em qualquer contexto, isto é, em qualquer situação, que isso é feito; geralmente, isso acontece quando todos estão dispostos a discutir o tema de uma forma civilizada, sem levar (muito) para o lado pessoal, como nas escolas, que não têm ensino religioso (obrigatório), mas têm aulas de História, Sociologia e Filosofia; nessas disciplinas, é impossível fugir do assunto; mesmo que alguém não queira giões espíritas são. A maioria da população brasileira não é espírita, o que acaba tornando comum o fato de muitas pessoas criticarem esse tipo de religião sem serem confrontadas, mesmo havendo o consenso de que não é bom discutir religião. Entretanto, se alguém apontar defeitos de uma determinada igreja protestante, por exemplo, terá boas chances de ser repudiado quase que instantaneamente. Não é difícil (apesar de triste) imaginar uma pessoa se afastando de outra por essa última ser espírita. Crianças, jovens e adultos espíritas sofrem discriminação.

Qual é o problema com a Umbanda? Qual é o problema com o Candomblé? Qual é o problema com o Kardecismo? Qual é o problema com o espiritismo? Preconceito é a resposta.
As pessoas são preconceituosas e ignorantes. Com exceção dos hipócritas, que já foram a algum terreiro para consultar algum espírito e depois falaram mal da religião cujo templo lhes ofereceu ajuda, as pessoas parecem desconhecer e ter uma profunda antipatia a qualquer coisa ou idéia que tenha a ver com religiões espíritas. Palavras como “incorporação”, “orixá”, “Exu”, e outras, soam desagradáveis aos ouvidos de muitos, como se fossem algo indecente, errado, horroroso. Lamentável. As pessoas que enxergam dessa forma, na verdade, estão cegas. Não que haja intenção de apoiar, defender ou dizdiscursar, vai ter de ouvir um discurso sobre religião (o que não é absurdo algum, uma vez que o país é uma democracia). Mas há algo que chama a atenção. No Brasil, a Umbanda e o Candomblé são duas religiões muito mal conhecidas e muito mal vistas. O Kardecismo também. Todas as relier que as religiões espíritas são as certas e as outras as erradas. Nada disso. Mas sim a de dizer que essas religiões... São religiões. E que fique bem claro que o autor deste trabalho é agnóstico e, há alguns meses, era ateu.

Discordar dos preceitos de uma religião que não seja a própria é muito comum. Por exemplo: Um freqüentador da Igreja Batista discorda de alguns ensinamentos católicos, e vive-versa. Porém, no caso das religiões espíritas, parece haver algo mais, algo além da pura diferença de doutrina. É como se houvesse um verdadeiro sentimento de repulsa por elas. Todas as religiões, apesar das diferenças, têm algo em comum: A crença em Deus. É graças a essa crença comum que católicos, protestantes e Testemunhas de Jeová conseguem se relacionar e não mostrar a face da discriminação e da intolerância uns aos outros no Brasil. É fato que em outros lugares do mundo as coisas não são bem assim: Muitas mortes houve por causa de religião, por causa dos conflitos gerados entre os fundamentalismos (religiões consideradas sagradas baseadas em livros tidos como sagrados também) islâmico e judeu. Mas no Brasil, um país democrático, não deve haver intolerância e tanta aversão a religiões espíritas. Ou, pelo menos, não deveria haver. As religiões espíritas crêem em Deus, e tem seus próprios códigos de conduta. É possível enxergar essa semelhança nas outras religiões. Por que não é possível fazer o mesmo na Umbanda, no Candomblé e no Kardecismo?

Imagine uma criança que tem pais evangélicos. Agora, imagine outra que tem pais umbandistas. A primeira muito provavelmente discriminará as religiões espíritas e dificilmente será instruída a não falar mal delas (afinal, a maioria é como ela, ou seja, não é espírita; o que há a temer?). É claro que pode acontecer de ela ser alertada a não criticar religião alguma, espírita ou não, e a não discriminar e a ter tolerância, mas a tendência é sempre criticar as religiões espíritas e seus seguidores e “respeitar” as demais. No entanto, a aversão a religiões espíritas, embora nem sempre declarada, é, no mínimo, incentivada nos filhos de pais não-espíritas; parece que os pais acham isso bom, natural até. Pare para contar: Quantas pessoas sabem a diferença entre a Umbanda e o Candomblé? Ou melhor: Quantas pessoas sabem que Umbanda e Candomblé são religiões diferentes? A maioria as chama vulgarmente de “Macumba”. E isso porque, quando crianças, não receberam instrução, apenas preconceito. Já a segunda criança, filha de umbandistas, ou será instruída a não revelar a sua religião (tarefa difícil, pois sempre há quem pergunte) ou será instruída a argumentar a favor dela e não criticar as demais. Esse ensinamento acaba ficando para o resto da vida.

É triste ver que o preconceito às religiões espíritas são preservados. E mais triste ainda é ver que eles não têm fundamento. É difícil entender por que existe tanto preconceito e discriminação. Os umbandistas, kardecistas e seguidores do Candomblé não saem aos domingos para bater de porta em porta incomodando as pessoas para convencê-las de sua verdade e, mesmo assim, são mal vistos. Eles não fazem pregações escandalosas, nem em templos e nem em trens, e nem pedem dinheiro com promessas de retorno e, mesmo assim, são mal vistos. Eles nunca foram até uma igreja em construção apedrejá-la e destruí-la e, mesmo assim, são mal vistos. Nenhum umbandista, kardecista ou seguidor do Candomblé foi responsável por grandes manobras políticas (mesmo que um garotinho tenha muitos doces no bolso e na barriga por apenas um real) e, mesmo assim, são mal vistos. O que é alegado, então? Que a religião deles “não é de Deus”? Que ela é “coisa do Diabo”? Que ela tira as pessoas do “caminho da salvação”? O que mais vai ser dito? Que ela é “maligna”? Que ela incentiva a “fazer o mal”? Que ela tem vínculos com os maias budistas? Ou com os incas venusianos?
Com o passar dos anos, o preconceito vai diminuir, mas sempre com o risco de aumentar. Ele nunca vai ser erradicado. Ele pode ser apenas acuado, diminuído. Isso se faz combatendo-o, e combate-se o preconceito – todo o tipo de preconceito, não apenas o religioso - nas escolas, sendo que o religioso deve ser combatido justamente nas aulas (de História, Sociologia e Filosofia) em que é impossível fugir do tema religião. Cabe, sim, não somente aos pais, mas à escola, também, combater o preconceito e a intolerância religiosa (aliás, ao contrário do que alguns DESeducadores dizem, a escola é, sim, um lugar para receber educação e formação; o lar dos alunos chefiados por pais e mães não é o único lugar para isso). O ideal é evitar discutir religião e, contudo, se houver intenção de fazer isso, que seja em situações apropriadas e com muito cuidado, mesmo, para que as diferenças não sejam muito realçadas e conflitos não sejam gerados. É difícil dizer se os adultos espíritas que trabalham devem ou não esconder a sua religião no trabalho devido ao que podem enfrentar, mas, fora desse ambiente, dificilmente haverá razão para esse fato ser escondido. E os jovens espíritas não devem esconder o fato de serem adeptos ao espiritismo, seja por qual motivo for: medo de ser alvo de piadas, medo de não fazer amigos (ou de ser excluído do grupo de amigos). Nada disso pode ser usado como desculpa para esconder o fato de ser espírita. Ninguém deve esconder o fato de acreditar em determinada religião (assim como nenhum ateu deve esconder o fato de ser ateu). Se uma pessoa (ou grupo de pessoas) deixar de falar com outra por essa última ser espírita ou atéia, que assim seja: isso é motivo de comemoração, pois alguém que deixa de falar com outro alguém só porque o último é espírita ou ateu, nunca mereceu a amizade ou companhia desse último alguém. Não há alegria maior que ficar livre da companhia de pessoas falsas e preconceituosas. Não há felicidade maior que saber quem é realmente amigo e quem não é. Além do mais, enquanto muitos esconderem sua crença (ou descrença), a situação de preconceito não mudará tão cedo. Em outras palavras, não ter medo é a primeira ferramenta a ser usada para acuar o preconceito. Ninguém é obrigado a concordar com a religião de alguém. Mas todos devem respeitar os seguidores de uma religião. Ninguém é obrigado a crer em Deus. Ninguém é obrigado a descrer Nele também. E todos têm o direito de crer Nele de um jeito diferente, com uma religião que cada um escolher, que cada um achar melhor. E todos merecem respeito. Todos, não importando no quê acreditam ou deixam de acreditar. Agora, só para aqueles que têm religião: ninguém tem o direito de desrespeitar e discriminar uma pessoa por ela ser de alguma religião espírita ou não-espírita. Um evangélico, por exemplo, não deve sentir antipatia a um umbandista. Afinal, ambos crêem em Deus, e quem tem vidraça não deve atirar pedra. Não é tão difícil assim. O Brasil é um país laico e também uma democracia, não é verdade?

Por fim, para aqueles que não entenderam a epígrafe deste texto, que é um pensamento de Nietzsche, aí vai a tradução: Nietzsche pergunta o que é a verdade e responde dizendo que a verdade, na realidade, são apenas idéias que se aproximam da “verdade verdadeira”; idéias essas que são transmitidas com vários recursos, como metáforas, e que passaram a ser consideradas absolutas com o passar do tempo, mas, na realidade, elas são só ilusões, e alguns não se dão conta disso; alguns não percebem que a “verdade” são apenas idéias que tentam se aproximar dela; idéias essas que, segundo Nietzsche, apesar de aceitas por alguns, estão ultrapassadas e rejeitadas por outros (para ele, são como “moedas que perderam o valor e tornaram-se apenas metal”). Logo no início, Nietzsche diz que a verdade é “uma multidão de metáforas e metonímias”, já indicando que ela é falsa. Há um quê de hostilidade e arrogância nesse trecho. E não é por menos: Não bastasse a “verdade falsa” ser tida como verdadeira para muitos, nem todos realmente a compreendem (daí o motivo de Nietzsche dizer que ela é uma “’multidão’ de metáforas e metonímias”, pois elas são aceitas sem serem analisadas com profundidade). Ou são mal interpretadas. Ou não, pois não existe uma única e verdadeira interpretação, mas tantas quantas forem os intérpretes. Então, caro(a) leitor(a), que chegou até aqui, se você tiver alguma “verdade absoluta”, seja ela um livro “sagrado” ou não, fique sabendo que ninguém é obrigado a aceitá-la e, se você a aceita deve estudá-la a fundo, para que, mesmo ela sendo considerada falsa por Nietzsche, mesmo que ela seja tida somente como uma tentativa de aproximação da “verdade verdadeira” por ele, estude-a, para que ela não se transforme em uma multidão de metáforas e metonímias sem sentido para você aceitá-la apenas como um fantoche. Acredite nela se quiser. Mas estude-a. E, como diria um amigo do autor deste texto, EXponha-a, e não IMponha-a: aceite que nem todos são obrigados a aceitá-la, que os outros podem considerá-la falsa e buscar outra. Assim, se todos puderem conviver com as diferenças de opinião do que é a verdade e de opinião religiosa, haverá menos discriminação e menos preconceito.

Texto de meu amigo Márcio Alessandro de Oliveria, do blog "Alguém berra".

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

E...

E eu me pego só de novo,
Imerso em pensamentos dolorosos.
Não, não, o velho fantasma se foi
Mas o fantasma de mim mesmo fica
Para me atormentar todos os dias,
todas as noites.

E de repente bate uma melancolia.
Uma vontade de tentar tudo diferente
Pra ver se pelo menos dessa vez, dá certo
Mas os medos vem à noite, junto às sombras
E e vem a tristeza, a dor
A solidão, especialmente, solidão.

E então penso que já temo,
Temo perder o que já tenho em você,
E guardo minhas confissões a desconhecidos
Por medo, por puro medo
Medo de que as coisas mudem
Acho que tenho medo do inconstante.

E te ter me conforta, de algum estranho modo
O medo da solidão me atormenta
Mas sei que estará lá
No lugar mais lindo do meu coração.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Stalingrado

Era inverno ano de 1942.

- Mama, levanta, levanta! Levanta, mama!

A criança balançava o corpo inerte e frio de sua mãe, enquanto lágrimas jorravam de seus olhos. O som assustador dos panzers mergulhando sobre Stalingrado, ao mesmo tempo em que despejavam toda a sua carga explosiva sobre os prédios. Aqui se repetia a meses, mas o menino e sua mãe conseguira sobrevive num porão abandonado de um prédio baixo. Entretanto, a comida acabou, e sua mãe foi procurar mais, quando um outro ataque começou...

- Levanta, mama! Eles estão vindo... - e ele olha assustado para o fim da rua, de onde já se ouve o ruído lento e progressivo dos tanques se aproximando.

"Por que? Quem são eles? O que é que está acontecendo?". Tinha somente 9 anos, mas já se via em meio a neve, sendo atacado por todos os lados por pessoas que nem conhecia. Sua mãe estava machucada, ele via o sangue, mas por que? O que ela fez?


(texto incompleto)

Esse é apenas o rascunho de um conto que está surgindo na minha mente. Há algumas semanas meditei sobre a possibilidade de escrever um romance de guerra, mas repleto de discussões filosóficas, sobre o ser humano, o sentido de ser, a natureza humana, a crueldade e o sentido da guerra. Mas até agora, só esboços.. Vamos ver no que dá.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Amado pai...

Um dia perguntei:
- Pai, quando me viu pela primeira vez, o que pensou?
Ele olhou pra mim, deu um sorriso e disse: - Pensei que te amaria, protegeria e que dedicaria minha vida a você. – Ele parou, olhou para frente, para o horizonte, então olhou novamente pra mim e disse:
- Desejei que de todo o coração que você fosse feliz.

Meu pai, marceneiro de profissão, desempregado, 54 anos, pernambucano, com ensino primário incompleto. Pai de família dedicado, por todos queridos.
Como algo tão profundo e expressivo pode vir da boca de um homem tão simples?

Obrigado, Geraldo Luiz da Silva.

Obrigado, Pai.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Hoje foi um dia muito especial.
E pra sempre estará guardado no meu coração.

Beijo, Rafinha!

domingo, 11 de outubro de 2009

Enfim, um dia de Sol...

Seguir em frente, virar a página... Mais um capítulo do Livro dos Dias foi escrito e findado. Não, o livro não acabou, só um capítulo foi encerrado. Engraçado: este capítulo teve tantos altos e baixo, mas foi tudo tão lindo, embora o autor tenha pecado no final, que infelizmente, não teve um desfecho muito bom.

Mas isso pouco importa. O que importa, de fato, é continuar. Como li em outro blog, “Só depende de mim superar qualquer tipo de tristeza, magoa, arrependimento e viver as alegrias que tenho pela frente. (...) Se tudo deu errado, vire o jogo! vá em frente, guarde as experiências (e cicatrizes) para serem usadas futuramente. Espere sempre pela próxima vez.” ()

A dor, a tristeza e todo o sofrimento lhe arrebataram, mas também lhe fortaleceram. Foi forte, foi intenso, foi cruel, foi doloroso, mas está tudo bem. Nunca foi o sujeito mais feliz ou otimista do mundo, mas Caio F. o traduzia: "Sofre horrores, mas continua do bem, sempre inventando histórias com final feliz" – Caio F.

E ele foi, sabe? Foi mesmo, sem medo, encarando o que vier. Afinal, cada combate vivido, perdendo ou ganhando, só torna o guerreiro mais experiente para garantir sua vitória no próximo combate. Resolveu que seguiria em frente, vivendo, sempre seguindo. Guardaria pra sempre todas as lembranças (as boas, pois lhe trazem felicidade; as ruins, pois lhe ensinam), e tenha certeza, você sempre estará ali, no seu coração. Pra sempre.

“Chegou a hora de recomeçar...”

¹ Nota do Autor:

Aos meus dois leitores: sei que estou um porre, escrevendo horrores sobre Filosofia, em textos gigantescos que nem vocês dois, os meus mais fiéis (e únicos) leitores aturam ler. Peço humildemente desculpa e tentarei balancear mais no tema dos textos (e sua abordagem também).

Novamente: desculpem-me. Estou tentando ser moderado e, em breve, voltarei as minhas baboseiras melancólicas. Idéias vão surgindo. E lá vamos nós...

sábado, 10 de outubro de 2009

Crítica a hipocrisia da moralidade..

Foi durante uma discussão, após a aula de Filosofia da Educação, sobre a moralidade, que tive a idéia de escrever esse texto. Aqui pretendo discutir sobre o que se supõe ser a moral, qual a sua finalidade, suas limitações e, sobretudo, sobre a tão irritante hipocrisia da moralidade. Além disso, ainda pretendo fazer algumas ressalvas sobre a moralidade e seus malefícios a consciência racional, mostrando os grilhões de uma falsa moral, a muito já corrompida, e a estupidez dos que a seguem cegamente como norma de vida, sem nem ao menos entendê-la de fato. Obviamente, justificarei (com base em argumentos e não em conceitos morais ou religiosos) meus pontos de vista, buscando realizar uma crítica bem elaborada e construtiva.

Começo minhas argumentações com uma afirmação provocante: a moralidade é um veneno! E por que? Pois bem, para discutirmos isso, se faz mister que passemos por todo o processo de atitude filosófica: o que é moralidade, como é a moralidade e porque é a moralidade. Somente então, poderemos elabora uma crítica coerente ao entendimento da moralidade tal como é.

A moralidade é um conceito abstrato que representa em si um conjunto de valores de caráter normativo, criados (e impostos) pelo Homem [¹]. É, acima de tudo, um construto humano. Ao que parece, o cumprimento de tais normas e costumes é condicional para o bom convívio social. Parto do princípio então, que sendo um conjunto de valores, e tais valores são variáveis de acordo com seu condicionamento, a moralidade também o é. Isto quer dizer que a moral é uma variável: embora tenha em si uma base, uma pré-disposição de ser, está condicionado invariavelmente ao meio por fatores como cultura, história, geografia, economia, política, entre outros aspectos. Em suma, a moral está condicionada a fatores externos, fatores da sua realidade sócio-cultural. Talvez um bom exemplo disso seja a condição da França como uma das nações que mais preservam os princípios de liberdade individual, provavelmente originário de sua História, com os ideários iluministas de liberdade e igualdade.

Um fator bastante curioso e que permite a moralidade um caráter quase que dogmático é a falsa imutabilidade da moral. Depois de condicionada e estabelecida, parece que a moral se torna uma espécie de tabu, ao qual ninguém ousa quebrar, garantindo assim a idéia absurda de que a moral é uma verdade absoluta. Assim sendo, o que há na verdade é a estagnação de um conceito que ainda se tem muito a ser discutido e pensado. A idéia, a construção do conceito simplesmente cessa, sustentando ainda mais a idéia irracional de imutabilidade da moral. Quando pararemos para refletir o por quê de conceitos quase medievais ainda estarem presentes em ensinamentos passados de pais para filhos nos dias de hoje?

O que deve ser pensado quanto à questão da falsa verdade absoluta da moralidade, é de que a moralidade é composta por valores, valores criados pelo Homem. Sendo assim, esse mesmo Homem tem a capacidade e o poder, talvez até mesmo o dever, de está sempre repensando em tais valores, avaliando sua aplicabilidade tendo em vistas nas mudanças sócio-culturais do mundo hoje. Ao Homem cabe o papel de Deus neste sentido: criar, recriar, destruir, reformular e moldar os valores, que são a ele vitais para o convívio social e entendimento do mundo. Não há Verdade imutável.

Tratando do aspecto do “como é a moralidade?”, é fundamental que entendamos qual a estrutura e quais as relações que constituem a moralidade. Em nossa sociedade atual, vivendo a era da informação, a moralidade se dá como regulador de normas e condutas sociais. Assim podemos nos indagar: moral individual ou coletiva? Individualmente, a moralidade age como um limitador de interesses e valores coerentes e aceitos pelo (in) consciente. Ou seja, desse ponto de vista, a moral age apenas sobre o Eu, restringindo de nossa mente (conseqüentemente, de nossa realidade) o que não nos é cabível ou aceito pela nossa mente (que pode agir assim consciente ou inconscientemente, mas tal tema corre ao âmbito da psicologia, não cabendo aqui).
De outro modo, a moral poderia agir de maneira coletiva, e é aí que reside o problema! Explicarei melhor: de forma coletiva, a moral deixaria de atuar sobre o Eu e tentaria impor-se aos demais, privando os outros indivíduos do direito de conceber para si sua própria concepção de moral. Entendam que não defendo Sodoma [²]; defendo sim, a queda da hipocrisia, que em sua forma menos repudiosa, se apresenta de modo destrutivo, intolerante, cega e que enaltece o ódio ao “infrator moral”, dando margem a verdadeiras patologias sociais, como o preconceito, racismo, intolerância religiosa, entre outras coisas. Além do mais, não defendo o fim da moral (tendo alguns dos valores que a compõe fundamentais para o estabelecimento de um futuro melhor), e sim sua reformulação conceitual com base na extinção da hipocrisia que nos envenena a cada nova geração.

Outro ponto de que gostaria de salientar é a diferença estrutura e conceitual entre senso moral e consciência moral. O senso moral é o conceito que define o que sentimos quando somos levados a agir em razão do próximo, agir pelos nossos valores éticos e ainda pelo sentimento de igualdade entre si e o próximo. Ou seja, o senso moral leva uma pessoa a agir inconscientemente diante de uma situação a qual é levado a prova seus sentimentos quanto ao próximo e seus valores sociais. Ao sentirmos piedade e solidariedade pelas vítimas das chuvas em Santa Catarina, e participamos de uma campanha de ajuda, estamos ponto em prática nosso senso moral. Além desses, sentimentos como compaixão e injustiça impulsionam o senso moral. Já a consciência moral atua na tomada de decisões relacionadas ao comportamento da pessoa, pois necessita tomar decisões relacionadas a si próprio e a outras pessoas, de forma que seja responsável por estas e ainda assuma as conseqüências de tais decisões. O discernimento promove a relação entre os meios e os fins que auxilia na distinção de reações morais e imorais.

Percebemos então, como sendo composta de valores (em sua maioria, corruptos em irracionais), a moralidade está sujeita a críticas, grande parte direcionada a seu caráter normativo e hipócrita. Por que hipócrita? Além das inúmeras discrepâncias referentes puramente ao conteúdo de sua série de normas de conduta, o mais importante é, sem dúvida, que a moralidade, tal como é hoje, é um veneno para o indivíduo racional! Sob a alegação do melhor bem-viver (que, estranhamente, exclui os grupos menos convencionais da sociedade), ela age como uma máscara para a realidade e para a verdadeira natureza do Homem, escraviza a consciência!
Acredito que o primeiro passo para a queda da hipocrisia da moralidade nos tempos de hoje seja, antes de tudo, o respeito a liberdade pessoal de cada indivíduo. Este é um fator condicional para este pretensa reforma. Argumentando com um amigo, este me disse: “Imagine, eu levando minha mulher e meus filhos para um restaurante e, chegando, na mesa do lado, dois homens começam a se beijar. Poxa, isso é uma agressão a minha liberdade!”. Eu, calmamente, perguntei “Em que sentido?”. “Oras, no sentido de que quero ter uma tarde tranqüila com meus filhos no restaurante e quando chego lá, vejo isso!”. Creio que este diálogo demonstre a que nível a moralidade envenena as pessoas.

Não respondi na hora, mas refletindo depois, pensei sobre a questão. Em que aquele casal homossexual estaria violentando a liberdade de uma tarde tranqüila de meu amigo e sua família? Ele, que nasceu em certo tempo e lugar, teve determinada educação e foi introduzida a determinada cultura e a algum pensamento religioso, se sentiu agredido com aquele ato, mas será que seu filho, que nasceu em um tempo diferentes, num lugar e cultura reformulados e foi educado de um modo completamente diferente, pensará do mesmo modo? Será que daqui a alguns 50 anos esse ato de um casal homossexual causará tanto impacto a uma outra família, também com fatores condicionais completamente diferentes?

Por esses e outros aspectos, reafirmo que a atual moralidade é um veneno! Reafirmo que ela escraviza a consciência e mascara a realidade. Para mudarmos esse quadro, é necessário trazermos a mesa novamente esses temas, de modo a agir como Deus e reformular a nossa realidade. Vimos como diversos fatores condicionam a atual situação de uma sociedade regida por uma moralidade hipócrita e corrompida! Entretanto, nenhum desses fatores é determinante, cabendo a nós a mudança, como sempre o foi. O entendimento da moralidade como um mal que nos torna cegos e nos envenena a cada é o primeiro passo para a mudança, e é isso que estamos tentando fazer.

"O medo é o pai da moralidade." - Friedrich Nietzsche

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Um grito de Liberdade..

Cantada desde de tempos imemoriáveis, amada por artistas e poetas, sonhada por todos. Lema de revoluções; em seu nome, litros e litros de sangue derramados ao longo da História. Dos pensadores pré-socráticos, aos pais do capitalismo e comunismo, passando pelos fundadores de movimentos como Renascimento e Iluminismo: todos almejaram e a desejaram, muitos dedicando sua vida inteiramente para alcançá-la. Possuí-la significa ser dono absoluto de si. Todos anseiam, todos precisam, todos querem, embora a maioria não a entenda.

Liberdade.

Mas o que diabos é a liberdade? Cegos são os homens que acreditam que a possuem. Pense: és livre? Faz o que queres? Nada te impede de querer e poder? Sem dúvida, a resposta de todas as perguntas foi “não”. E porque?

Supõe-se que a liberdade seja um bem pessoal, único e individual, que nos garante o direito de agirmos conforme nossa vontade. Entretanto, nos encontramos em meio de uma série de restrições a nossa liberdade, como moralidade, ética, normas de condutas sociais, etiqueta, padronização social (voluntária), entre outras coisas. Segundo Montesquieu, “liberdade é o direito de fazer tudo aquilo que as leis permitem". Mas liberdade restritiva é liberdade? Se você quiser contar uma piada em um velório, poderá fazê-lo sem sofrer represálias das outras pessoas? Pessoas que assim como você são teoricamente dotadas de liberdade e compõe a mesma sociedade, que tiveram basicamente a mesma educação e os mesmos princípios morais?

A liberdade é um bem defendido desde o início da civilização. Mikhail Bakunin, filósofo anarquista, defende que o homem era livre apenas em seu estado selvagem. Complementando-o, digo que o homem era livre até o estabelecimento da divisão social do trabalho, que surgiu já no primeiro processo “civilizatório” da humanidade. Quando um homem deteve em si o direito de coordenar e definir qual o homem trabalharia fazendo o que em prol de estabelecer um equilíbrio de produção, sob a justificativa de que seria para o bem de todos, a liberdade do homem foi ferida. Ou talvez eu esteja errado, e o homem conduziu sua produção segundo o bom senso, consciente de que sua decisão poderia prejudicar outros. Mas há um fato que definiria essa questão: sofreria represália, social ou mesmo física, o homem que decidisse por si, em nome de sua vontade e liberdade, não plantar o que lhe era designado, ou se dedicar a religião ao invés de plantar, ou mesmo o homem que, embora talentoso agricultor, desejasse trabalhar na administração da comunidade?

Um outro fator muito importante, talvez tão importante quanto a questão da liberdade, é o bom senso para a liberdade. Até mesmo a liberdade tem limite, e tal limite é o bom senso. Não pense que sou contraditório, uma vez que defendi que liberdade restritiva não é liberdade, pois continuo pensando assim. O bom senso que defendo e a que me refiro não é um bom senso hipócrita moral, ou que segue as condutas tolas de uma sociedade cega. O bom senso em que acredito é o bom senso da auto-preservação, o mesmo do homem “selvagem” (que em certos aspectos era mais civilizado que o homem moderno; mas a questão do que seja a civilidade fica para outra discussão). Liberdade não é sair por ai andando nu só porque quer senti o vento. Isso não é liberdade, é tolice. Não me refiro aqui sofre seguir normas sociais hipócritas, da qual sou fervoroso opositor, mas do fato de que devemos sempre lembrar que a liberdade é um direito individual, e a sua liberdade termina onde começa a do próximo.

"O homem nasceu livre, e em todos os lugares ele está acorrentado."
(Jean-Jacques Rousseau)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

E a verdade?

Hoje pude ver um dia ensolarado, com o céu azul anil,
com raros rabiscos brancos de nuvens.
Hoje senti que era invisível, que podia andar por onde quisesse, fazer o que quisesse
ninguém me veria, ou se importaria

Hoje senti um sopro de vento quente que me lembrou que existe um mundo
Uma vida esperando ser vivida, um tempo que não me esperaria
Hoje vi a Lua Cheia por entre os montes,
e tive certeza de que a vida é muito maior que isso.
Ainda não entendo o sentido da existência, mas entendo que existo e que me devo existir.

Durante todo o dia quis gritar,
gritar que sou livre, que amo, que odeio,
que sou humano, que sou eu.
Me devo este grito, me devo essa sensação de felicidade
Não sei quando a felicidade vai vir, mas quando vir (e ela sempre vem),
vou aproveita-la em cada milésimo de segundos.

As emoções passam em meu coração como os pensamentos em meu cérebro:
como relâmpagos, fortes, rápidos e devastadores
Se a dor faz parte de mim, a esperança também
Mas seria isso bom, se a esperança é o pior dos males?
A caixa de Pandora não é um baú de tesouros.

O coração bate, a cada dia mais devagar
Uma hora pára, mas essa hora demora, vai demorar
Porque tenhos sonhos a realizar, livros a publicar, viajens a fazer, mulheres a transar (Jolie?)
Tenho momentos para serem vividos, histórias para contar, alunos a educar.
Meus espermatozóides serão a próxima geração.

Temos muito ainda por fazer.

Olho pra frente, pra um futuro invisível aos outros
Somente os inteligentes podem ver a roupa que não existe
Somente os burros veem a verdade como é
E o que é a Verdade?


A verdade, meu irmão, cada um faz a que lhe serve melhor.

sábado, 3 de outubro de 2009

Shaman - Innocence

Hoje eu acordei
Dentro de um trem de sonhos
A chuva forte caía em preto e branco
Eu parei e olhei fixamente
O resto do que sobrou
Meu próprio mundo se desmoronando

Eu prendi minhas lágrimas
um dia vem após outro

A chuva que caiu
acariciou minha pele novamente
Só deixe-a fluir para eliminar
O tempo que passou
Sentindo negado por muito tempo
Meu coração não está mais amarrado em dor

E agora está claro
Um dia segue o outro
Eu sequei minhas lágrimas
Há tanto para se descobrir em outro lugar

Eu ouço o som
de mil vozes
Eu perdi minha inocência
Eu estou no meu caminho
Através do deserto
Para resgatar o que eu enviei
Fora do meu coração
Distante

E agora está claro
Um dia segue o outro
nós enfrentaremos nossos medos
e acharemos o caminho de volta para cada um

oh!

Eu ouço o som
De mil vozes
Eu perdi minha inocência
Eu estou no meu caminho
Através do deserto
Para resgatar o que eu enviei
Fora do meu coração

Eu ouço o som
de mil vozes
Eu perdi minha inocência
Eu estou no meu caminho
Através do deserto
Para resgatar o que eu enviei
Fora do meu coração
Distante

Só isso basta..

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.

A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão."

- Caio F.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Dias difíceis, dias nublados e tristes. O cansaço de tudo o que sou, de tudo que é e está, se abate fortemente sobre mim e meus ombros largos. Meu corpo está esgotado, minha mente vazia e minha alma quebrada, mas mesmo assim me vejo obrigado a prosseguir. Um dia de cada vez, sem pressa ou expectativa, calmamente, sigo o caminho (que não sei ao certo se é o meu, mas sigo; seguir é melhor do que estagnar).

Procuro em minha mente vazias coisas para dizer a mim mesmo, frases de incentivo de pessoas importantes, tento me encher de coragem todos os dias, acreditando que as coisas vão ser diferente. Não quero acreditar, acredito, acredito desacreditando. Sei que passa, sei que não será assim pra sempre, mas a dor é hoje, é agora, e embora queira passar por isso olhando pra frente, não consigo.
Torço pelo dia em que escreverei coisas otimistas aqui, sobre felicidade e amor, sobre as coisas boas da vida e como é bom viver. Mas enquanto isso, vivo nesta constante melancolia, de uma grande tormenta que surgiu como uma pequena nuvem negra no céu.

Alguém muito especial me disse a pouco:

“Não quero ver você pra baixo, achando que tudo está dando errado.
Não podemos generalizar as coisas. Há o amor, e também há a vida.
Nossa vida pode ficar balançada pelos acontecimentos cotidianos,
mas com o amor que carregamos, nada será abalado. E eu sei desse amor que você carrega.”

Pessoa a que amo e quero muito bem. A fé que depositas em mim me dá força, me incentiva e meu coração não esquecerá isso. Quero, e terei, esta fé em mim mesmo. Assim será.

domingo, 27 de setembro de 2009

A Tempestidade

Coração duro feito pedra, cabeça erguida
É mais fácil seguir em frente quando não se precisa olhar pra trás
Seria mais simples em nem pensar na vida
Mas as coisas não funcionam desse modo, coisas simples demais

Atormentado por coisas que nem sei
Vivendo um dia de cada vez
Sem esperanças? Ou sem esperar nada do futuro?
Só há decepção com expectativas frustradas
Não quero mais me decepcionar

Lutando comigo mesmo todos os dias
O anoitecer me dá mais esperanças do que o amanhecer
E falta coragem para levantar às manhãs frias
Questiono-me sempre sobre o sentido de ser

Vejo dias nebulosos à frente,
Enquanto tento sobreviver a essa tempestade.
Nuvens negras, vento forte, ruídos latentes...
Tempestade em mim..

E sigo levando. Não é confortável, nem agradável. Não sei para onde ir, nem se devo ir, mas continuo seguindo. Mesmo a perspectiva de um final feliz já não me anima, assim como não me anima as lindas lembranças daqueles dias felizes, embora devesse. Pois alguém otimista pensaria “pelo menos, tudo o que vivemos foi bom”, mas não alguém como eu, não eu; eu sou o tipo que ao invés disso pensaria “foi lindos dias, que acabaram e que não tenho certeza se conseguirei seguir em frente”.

Meu lado sombrio dá risadas amargas da perspectiva de sofrer, enquanto que isso não mudará nada (mas ajuda a diminuir a dor). Se diverte do meu próprio sofrimento, enquanto olho pela janela e vejo as crianças brincando, sendo feliz. Enquanto meu lado benigno tenta obliterar a dor, pensar no que há de vir e pensar nas alegrias vividas, procurando de todo o jeito levar tais lembranças como momentos felizes, e que valeram mesmo por terem acontecido, independente do que estava por vir logo depois daqueles dias de glória.

Nas lendas, nunca mostram como os gloriosos e poderosos guerreiros levantam após suas quedas, ou mesmo, se levantam. É fácil imaginar, e mais fácil ainda dizer, “siga em frente”, “a vida continua”. Marcas, cicatrizes. É isso o que fica, e isso que nos lembra o que aconteceu conosco na estrada até aqui. Ou um ferimento sara, ou o guerreiro morre. Não quero morrer, mas por que essa maldita ferida não fecha?

Mas sigo levando. Sim... Não quero sofrer, não quero, sei disso, tenho certeza disso, mas meu coração insiste em sofrer. O que faço? Alguém pode me ver aqui em baixo?


(Escrito em 20 de setembro de 2009)

Renato Russo - Trechos [Parte 2]

“Todos os dias quando acordo,
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo,
Temos todo o tempo do mundo
(...)
Sempre em frente, não temos tempo a perder”

“Será que você vai saber o quanto penso em você com o meu coração?”

“Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos pra mesma direção
Aonde está você agora, além de aqui, dentro de mim?
(...)
E quando vejo o mar, existe algo que diz
Que a vida continua e se entregar é uma bobagem
Já que você não está aqui, o que posso fazer,
É cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos”

“As vezes parecia, que de tanto acreditar,
Em tudo que achávamos tão certo
Queríamos o mundo inteiro e até um pouco mais
Faríamos florestas no deserto, e diamantes de pedaços de vidros
Mas percebo agora o seu sorriso, bem diferente
Quase parecendo te ferir”

“Nada mais vai ferir.
É que já me acostumei com a estrada errada que segui
Com as minhas próprias leis.”

“Estou aprendendo a viver sem você
Já que você não me quer mais
(...)
Quando você deixou de me amar,
Aprendi a perdoar, e a pedir perdão”

“Quantas chances desperdicei quando o que eu mais queria
Era provar pra todo mundo que eu não precisava provar nada pra ninguém”

“Mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira”

“E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você”

“Sei que as vezes uso palavras repetidas,
Mas quais são as palavras que nunca são ditas?”

“Sempre precisei de um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto”

“Não vou me deixar emputecer,
Eu acredito nos meus ideais
Podem até mal-tratar meu coração
Mas meu espírito ninguém vai conseguir quebrar”

“É tão estranho, os bons morrem jovens
Assim parece ser, quando me lembro de você
Que acabou indo embora cedo demais”

“Só por hoje, eu não quero mais chorar
Só por hoje, eu espero conseguir aceitar o que passou e o que virá
Só por hoje, vou me lembrar que sou feliz.”

“Mas é claro que o Sol vai voltar amanhã”

“Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar nos sonhos que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo, ou que você nunca vai ser alguém”

“Hoje a tristeza não é passageira, hoje fiquei com febre a tarde inteiraE quando chegar a noite, cada estrela parecerá uma lágrima”

Renato Russo

sábado, 26 de setembro de 2009

Wherever you will go...

"And maybe, I'll find out
A way to make it back someday
To watch you, to guide you, through the darkest of your days
If a great wave shall fall and fall upon us all
Then I hope there's someone out there
Who can bring me back to you"

Talvez alguns dias atrás essas palavras me fizessem sentido, mas hoje, não sei mais. Aliás, ultimamente há poucas coisas de que sei. Uma delas é que:

"Tenho repetido que, no que depender de mim, me recuso a ser infeliz". (Caio F.)

Mas nem disso tenho completa certeza. Nem sei se um dia já encontrei a verdadeira felicidade (e não me refiro aquela de quando, por exemplo, te fazem uma festa supresa ou quando tira nota boa numa prova que não esperava se dar bem). Sei que o que sinto é ruim, mas se sou capaz de distinguir o que é ruim, é porque já provei o bom, mas a fundo, não me recordo disso. Enfim... Deixo essas questões mais filosóficas para outro dia.

Boa noite, senhoras e senhores.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Nicole

Em meio a via imunda, seu semblante resplende. Me chama com os olhos, assim como chama qualquer outro que passe. Me aproximo e sussurro em seu ouvidos palavras rápidas e objetivas, ela sorri e segura minha mão, andando comigo, indicando-me o caminho.Subo escadas estreitas, rumo ao que nem-sei-o-quê.

Nicole me espera no alto da escada. Seu corpo é quente e acolhedor. Um beijo no rosto, um sorriso. Não é confortável a nenhum dos dois, a ela principalmente, mas em alguns minutos tudo acabaria.

Seu corpo macio, seu cabelos negros e lisos escorregando pelo seu seio desnudo. Tenho vontade de abraçá-la, mas isso é muito pessoal.

Ao fim, ela me espera no fim do corredor. Outro beijo no rosto, mais um sorriso. Foi frio, rápido e, de certo modo, cruel aos dois, mas foi muito bom. Mas então por que ainda me sinto tão vazio?


(Escrito em 19 de setembro de 2009)
Acordo cedo, tomo banho, escovo os dentes, troco de roupa, tomo café e vou para o estágio. Pego metrô lotado, e simplesmente observo as pessoas. Alguns conversam, outros riem, mas a maioria (tipo uns 95%) tem uma cara estranha, difícil de definir. Algo como uma mistura de tédio, desânimo e tensão. São quase 8h da manhã, e as pessoas vão para o trabalho como se estivesse indo para o calvário ser crucificado.

Esbarro em uma senhora ao meu lado, viro-me e digo “me desculpa”. Sua resposta? Uma cara ranzinza e um olhar zangado pra mim. Deus, o que há com o mundo? Eu só esbarrei o braço nela, não lhe arranquei um fígado. Fechos os olhos, respiro e volto minha atenção para o meu livro. Então, a minha frente, uma linda mulher está virada de costas pra mim, com o celular no bolso de trás, mas de fácil acesso a qualquer ladrão. Posiciono-me de modo a cobrir suas costas. Protegi alguém que nunca saberá o que fiz, nem quem sou. Ela nem olhou pra trás.

Eu sou um cara legal. Posso não ser rico, inteligente e muito menos bonito, mas sou um cara legal. Não direi que sou um santo, mas estou sempre disposto a fazer o melhor, o bem. E o que recebo em troca? Sou pisado e humilhado todos os dias por agir como um ser humano deveria agir. Me sinto um homem perdido em meio a uma savana de leões famintos.

Cansei, sabia? Cansei mesmo. Não que eu vá ser uma pessoa ruim daqui pra frente, mas estou perdendo gradativamente a fé em muitos dos meus ideais, e pior de tudo, também perco a vontade de acordar todos os dias e encarar um mundo como este. Tenho certeza, se quisesse me isolar em um casulo em mim mesmo, conseguiria sobreviver numa boa, mas sinto que isso me tornaria menos humano, o que não me agrada. Não quero ser um caçador, mas também não quero ser abatido.

Esse mundo definitivamente não é pra mim...

(Escrito em 22 de setembro de 2009)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Renato Russo - Trechos [Parte 1]

“Já estou cheio de me sentir vazio”
***
“Um dia pretendo tentar descobrir
Porque é mais forte quem sabe mentir”
***
“Não estou mais interessado no que sinto,
Não acredito em nada além do que duvido.”

***
“Tudo é dor, e toda a dor vem do desejo de não sentirmos dor”
***
“O Sol nasce pra todos, só não sabe quem não quer.”
***
“Quando querem transformar dignidade em doença
Quando querem transformar inteligência em traição
Quando querem transformar estupidez em recompensa
Quando querem transformar esperança em maldição!”
***
“Me sinto só, e dizem que a solidão é o que me cai bem”
***
“Quero me encontrar mas não sei onde estou”
***
“Me deixa ver como viver é bom,
Não é a vida como está, e sim as coisas como são”

***
“Vem de pressa pra mim que eu não sei esperar
Já fizemos promessas demais
Já me acostumei com a sua voz
Quando estou contigo, estou em paz.”
***
“Tudo passa, tudo passará...
E nossa história, não estará pelo avesso, assim, sem final feliz
Teremos coisas bonitas pra contar...”
***
“Quando se aprende amar, o mundo passa a ser seu”
***
“Os sonhos vêem, os sonhos vão
E o resto é imperfeito.
Disseste que se tua voz tivesse força igual a imensa dor que sentes
Teu grito acordaria, não só a tua casa, mas a vizinhança inteira”
***
“Quando não estas aqui, sinto falta de mim mesmo
E sinto falta do meu corpo junto ao teu”


Renato Russo

Jogo roubado.

O passado me assombra, um passado não tão distante.
Isso me irrita muito,além de atrapalhar minha vida.
Paro completamente 24 horas por dia pra pensar nas coisas que se passaram, e as vezes quando por alguns segundos me esqueço,faço força pra lembrar.
Quase uma masoquista da minha mente.
Isso acaba comigo,me desfacelando as poucos.
Assumindo minha culpa,ganhei isso como um bônus.
Só não achei que o jogo teria um nível como esse... tão baixo.
Acreditei que um dia você,jogador,pudesse me surpreender.
Me surpreender com gestos bonitos e maduros, um jeito positivo
não me surpreender do lado negativo da história, uma velha-história-recente muito vulgar.


Escrito por Rafaela Cotta.

Mais uma carta..

Em 14 de setembro de um ano qualquer...

À caríssima Srta. Braga,
Alguns de meus devaneios reflexivos.

Peço, minha querida, que me perdoe se for enfadonho. Mesmo que lhe pareça uma leitura tortuosa, suplico-lhe que vá até o fim, leia até o fim. Sim, desta vez lhe sobrecarregarei com minhas idéias psicóticas e insanas, mas apenas desta vez, prometo.

Peguei-me a pensar sobre o que o porquê de sermos tristes. Não me refiro somente a sermos tristes, mas como a necessidade da natureza humana de querer a tristeza. Sim, nós a queremos. Duvida? Então pense em quantas vezes, depois de se decepcionar, mesmo sabendo que deveria dar a volta por cima, seguir em frente (e com todos aqueles que se importam contigo dizendo o mesmo) você optou por continuar a sofrer e se martirizar, nem que seja mais um pouquinho. Não entendeu? Quando, mesmo levantando a cabeça pra continuar em frente, você coloca, propositalmente, aquela música que a faz pensar em sua dor. Isso é uma forma de martírio, de tortura, de autoflagelação psicológica e, acima de tudo, uma opção por desejar a tristeza.

Sejamos sinceros, se não soasse absurdo, poderíamos até dizer que é “bom” estar triste. Sim, isso mesmo. Quando as pessoas lhe dão mais atenção, (aparentemente) se importando contigo; quando você pode usar a tristeza como desculpa para fugir da dieta (“só vou comer chocolate porque estou deprimido”); quando você encontra uma desculpa para não fazer nada, apenas deitar na cama, ouvir músicas tristes e olhar para o teto pensando em porque Deus te odeia; quando você pode justificar aquela nota ruim na última prova.

Agora, e quando queremos estar tristes por não sabermos como é uma vida de felicidade? Pelo menos, uma vida de felicidade sem o motivo que a deixa triste. Explicarei melhor.

Quando perdemos algo (alguém) que nos é muito importante, sofremos muito por isso. Ficamos tristes, muito tristes, e pensamos que já não faz mais sentido sem aquilo (ele/ela). Então nós queremos continuar tristes, ainda neste estado depressivo, com medo de sair dele e se deparar com uma realidade totalmente nova: sua vida sem aquilo. É o mesmo que uma telefonista que ama sua profissão e trabalha nela a muitos anos. De uma hora para outra, a empresa a demite, e ela fica destruída. Então, ao atender o telefone em casa, ela se pega dizendo “Empresa ‘tal’, aqui é Fulana falando, em que posso ajudá-lo?”. Ela terá que reaprender a dizer somente “alô”, e isso a assusta. Foram longos e felizes anos, fazendo algo que amava, e atendendo sempre o telefone da mesma forma (coisa que ela adorava), e de repente, sua realidade muda. Ela deve seguir em frente, sem dúvida, mas ela tem o não o direito de ter medo?

Dor, tristeza, tortura psicológica. Não sabemos o quanto sofrer, mas sabemos que o sofrimento é inevitável. Aponte-me um Homem que viveu sua vida na mais pura felicidade e alegria, e lhe darei uma bala. Sofrer não é uma opção, mas continuar a sofrer é. Todo dia travamos uma batalha contra nós mesmos, e essa é mais uma. Embora seja “ótimo” continuar no fundo do posso, olhar pro horizonte e seguir em frente é a melhor opção para que possamos (tentar) viver.

***

(escrito em 14 de setembro de 2009)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Sem título [2]

Fico olhando pra essa barrinha piscando, esperando que eu escreva algo, mas nada me vem a mente. Disse a mim mesmo “escreva sobre o que está sentindo. O que está sentindo?”. Parei, fechei os olhos, respirei, refleti. Nada. Um grande vazio. Preferiria mil vezes dificuldade em me expressar a sentir isso. Parece que não vivo, não sinto, não sou. Estranho, estranho mesmo..

Bateu forte a solidão agora. Nossa.. Essa doeu. Não sei explicar, parece algo além de mim, além de tudo. Fecho os olhos e tento entender, entender como chegamos aqui. Não entendo. Nem sei se quero realmente entender. Nossa.. Esse vazio dói mesmo.

"Já estou cheio de me sentir vazio"
- Renato Russo.

Fico procurando palavras pra escrever, vasculhando minha mente, mas não acho, não acho. Deus.. Isso é pior, muito pior.

(Hoje, me dou licença para não escrever bonito.)

Infância, doce infância..

"Hatuna Matata, é lindo dizer!
Hatuna Matata, sim vai entender
Os seus problemas, você deve esquecer
Isso é viver, é aprender..
Hatuna Matata"


Hoje, não sei porque, me deu uma nostalgia tremenda. Remontei momentos marcantes da minha infância, como as tardes assistindo o Rei Leão (o único desenho já me fez chorar), e quando a minha casa pegou fogo e eu fiquei preso no incêndio (é, acho que isso eu nunca contei a ninguém). Lembrei da escola, das brincadeiras... enfim, de muita coisa.

E qual a importância disso tudo? Bom, muitas das coisas que me aconteceram formaram meu carater e minha personalidade. Acho que eu devia fazer terapia, pra achar nas minúncias da minha memória o motivo de minha vida e de eu ser como sou. Acho que todo mundo deveria fazer terapia..

(OBS: Sei que estou sendo menos poético nos últimos escritos, mas prometo melhorar..)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sem título

Está tudo bem? Não. Mas ao menos, parece que tudo caminha para, não para o melhor, mas para o menos-pior. E isso é bom? Não sei, mas se isso servir de morfina, eu topo.

Já não consigo bolar títulos para os posts, que saco. Talvez porque eles não tenham um tema central, mas de todo o jeito, não importa muito. Hoje disse tudo o que precisava dizer, e as coisas caminham para o menos pior.

Hoje li um trecho de Clarice Lispector que adorei (aliás, um não, vários):

"Minha força está na solidão. Não tenho medo de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite."

Queria poder afirmar isso com tanta certeza. Quero ser indenpendente, egoísta, solitário, um espírito livre. Não consigo. Dor, dor e mais dor. Não, exagero. Só algumas pontadas de algumas farpas do passado, mas farpas bem doloridas. Eu já nem sei o que sentir, o que pensar, como antes. Digo que não doeu. Mentira! Dói, sempre dói. Mas passa, acho. Uma vez disse algo que nunca me esquecerei: "Já fui tão machucado nessa vida, que pequenos ferimentos nem doem mais..."

Talvez trate futuramente de "Dor". Algo bem complexo, e que daria um livro.
Não sei como termina, mas sei como começou e pra onde está indo...

(do que é que eu estava falando mesmo?)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Sabe, eu tinha vontade de te dizer muita coisa. Muita coisa. Pra começar, poderia te dizer que você é parte essencial de mim. Ter você longe já dói demais. Você faz muita falta na minha vida, muita, e nem sei dizer o quanto sem que soe exagerado ou mesmo, bobo.

Vai passar, eu sei que no fim das contas vai passar, e quando passar, quero olhar ao meu redor e te vê lá. Porque você é parte de mim. E de que adianta meu orgulho me afastar de você, enquanto minha mente se lembrará sempre de você e em meu coração, pra sempre estará? Portanto, não se vá. Não se esqueça de mim. Quero que minha ausência te faça alguma falta, mesmo que uma mera lembrança.

Não quero que se vá, porque você é parte de mim. E porque te amo. De um modo desengonçado, ainda estranho, estou reaprendendo a te amar. E preciso de você. Nem que apenas uns 5 minutos por dia, nem que seja só pra saber se está bem, eu preciso de você.

Não se esqueça de mim, por favor. Não se esqueça. Nem que eu seja uma ínfima lembrança em uma tarde tediosa, mas não se esqueça daqueles dias. E não se vá, por favor, não se vá.

Eu já te perdi uma vez, não me deixe perdê-la de novo.

Trechos de Caio F. Abreu [2]

"Me queira bem. Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas. Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito linda e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim."
Com cuidado, com carinho grande, te abraço forte e te beijo,
Caio F.
P.S.: Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis. E amanhã tem sol.”


***

"Porque chega uma hora em que você tem que escolher a vida. Eu talvez não saiba bem ainda o que isso significa, mas é claro para mim que a hora desta escolha é agora, está acontecendo."

***

"...Tudo isso dói.
Mas eu sei que passa, que se está sendo assim é porque deve ser assim, e virá outro ciclo, depois.
Para me dar força, escrevi no espelho do meu quarto:¨Tá certo que o sonho acabou, mas também não precisa virar pesadelo, não é?¨È o que estou tentando vivenciar.
Certo, muitas ilusões dançaram - mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas. Também não quero dramatizar e fazer dos problemas reais monstros insolúveis,becos-sem-saída.
Nada é muito terrível. Só viver,não é?
A barra mesmo é ter que estar vivo e ter que desdobrar, batalhar um jeito qualquer de ficar numa boa. O meu tem sido olhar pra dentro, devagar, ter muito cuidado com cada palavra, com cada movimento, com cada coisa que me ligue ao de fora. Até que os dois ritmos naturalmente se encaixem outra vez e passem a fluir.
Porque não estou fluindo."


***

"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. "

***


"Tenho medo de já ter perdido muito tempo. Tenho medo que seja cada vez mais difícil. Tenho medo de endurecer, de me fechar, de me encarapaçar dentro de uma solidão -escudo".


***

"Andei amando loucamente, como há muito tempo não acontecia. De repente a coisa começou a desacontecer. Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais, tive insônia e excesso de sono, falta de apetite e apetite em excesso, vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro). Agora está passando: um band-aid no coração, um sorriso nos lábios – e tudo bem. Ou: que se há de fazer."

***

"Seja como for, continuo gostando muito de você - da mesma forma -, você está quase sempre perto de mim, quase sempre presente em memórias, lembranças, estórias que conto às vezes, saudade..."

***

"Chorar sem salvação, num canto qualquer, sem motivo, sem dor, até mesmo sem vontade, de mágoa, de saudade, de vontade de voltar."


***

"De tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo."

***

"Não te tocar, não pedir um abraço, não pedir ajuda, não dizer que estou ferido, que quase morri, não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar, fingindo dormir, que tudo está bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem"

***

"Feito febre, baixava às vezes nele aquela sensação de que nada daria jamais certo, que todo as os esforços seriam para sempre inúteis, e coisa nenhuma de alguma forma se mais ficaria. Mais que sensação, densa certeza viscosa impedindo qualquer movimento em direção à luz. E além da certeza, a premonição de um futuro onde não haveria o menor esboço de uma espécie qualquer não sabia se de esperança, fé, alegria, mas certamente qualquer coisas assim.
Eram dias parados, aqueles. Por mais que se movimentasse em gestos cotidianos - acordar, comer, caminhar, dormir -, dentro dele algo permanecia imóvel. Como se seu corpo fosse apenas a moldura do desenho de um rosto apoiado sobre uma das mãos olhos fixos na distância. Ausentou-se, diriam ao vê-lo, se o vissem. E não seria verdade. Nesses dias, estava presente como nunca, tão pleno e perto que estava dentro de que chamaria - tivesse palavras, mas não as tinha ou não queria tê-las - vaga e precisamente de ; A Grande Falta.


*

Caio Fernando Abreu