sábado, 31 de outubro de 2009

Moonlight Sonata..

O som do piano parece distante, mas ao mesmo tempo tão próximo. A harmonia, ritmo e sinfonia de Ludwig me assombram. A cada nota, sinto meu coração vibrar, aos poucos tomando a forma de uma sinfonia há tempos esquecida... Sim, a bela música faz-me perder-me em mim mesmo. Imóvel, contemplando as cenas de um passado esquecido, de um presente não vivido e de um futuro nebuloso, mas lindo. Ah, a música e seu som limpo e forte, doce, faz-me sentir ainda mais entorpecido em mim...

Toca a alma, profunda e delicadamente. Um toque quente, de conforto, de uma estranha paz, mas de uma escuridão estranha. De uma imprecisão terrível. Arrepio-me a elevação do ritmo. Arrepio-me ao perceber o que a música está a fazer... Esses toques tristes, profundos, essas levadas espontânea, de uma alegria súbita; Vejo seus olhos e sorrisos em meus devaneios... "Quem és, bela de meus sonhos?", pergunto num delírio. O silêncio e seu sorriso foram respostas, mais que suficientes.

O compasso diminui. O final se aproxima. E as notas tornam-se cada vez mais expressivas, mais profundas, mais delicadas. E causam de novo a estranheza da dor e o prazer... E Beethoven chora.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Falsa Moralidade

No último dia 22, numa faculdade de São Bernardo do Campo, uma jovem estudante de Turismo foi hostilizada por estar usando um vestido vermelho curtíssimo (microsaia, como chamam). Aos gritos de “Puta! Puta!”, a jovem teve de ser escoltada pela polícia para fora da faculdade, sob o risco de ser agredida pelos estudantes. Por estar usando um vestido curto.

Vídeo

Hipocrisia, falsa moralidade. Quando eu falo de tais temas, me refiro a fatos como este. Que absurdo é esse?! Hostilizar uma estudante por estar se vestindo de modo inadequado segundo os padrões sociais (sim, pois a faculdade não tem regras específicas quanto a isto) me deixa tão chocado quanto a centena de outros brasileiros de opinião similar a minha. É a este ponto que chegamos? Tanta coisa pelo que brigar, tanta coisa pelo que se mobilizar, e é por ISSO que os estudantes se unem? Se tais estudantes tivessem a mesma disposição pra lutar contra a corrupção de Brasília ou pra pressionar a saída de Sarney do Senado, o Brasil não seria esse poço de lama em que vivemos. E por mais que se evite a lama, você acaba se sujando, uma hora ou outra.

Estou assustado, de fato. Assustado pelo que vejo no meu país, e com medo do futuro. Hoje, especificamente, não sei se canto o Hino Nacional com o amor que deveria.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Frases..

"E de novo acredito que nada do que é importante, se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instântes, dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser para sempre." - Shopenhauer

"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso." - Pessoa

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo." - Lispector

"Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente." - Veríssimo

"Sofrer e chorar significa viver" - Dostoiévski

"Só podia encontrar a felicidade se conseguisse subverter o mundo para o fazer entrar no verdadeiro, no puro, no imutável." - Kafka

"A alma resiste muito mais facilmente às mais vivas dores do que à tristeza prolongada." - Rosseau

"Cada homem deve inventar o seu caminho." - Sartre

"Os homens nunca usaram totalmente os poderes que possuem para promover o bem, porque esperam que algum poder externo faça o trabalho pelo qual são responsáveis." - Dewey

"Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no coração e sorriso nos lábios." - Luther King

Fantasia.

Não, já me cansa escrever sobre os dias cinzentos. Então o que faço? Espero a tormenta passar? Mas e se demorar?

Não. Se não tenho os dias de Sol, pelo menos os fantasio. Fantasia... Ah sim, doce fantasia. Fantasia alimenta a alma, dar aquela sensação de prazer tão intangível quando aquela de quando se come chocolate. Mas se não tomar cuidado, o gosto da fantasia pode ser amargo, então é importante sempre deixar claro que é o que é: fantasia.

Fantasio, sem hesitar, os dias de Sol. Não espero que se tornem reais, mas a fantasia me alimenta por hora. Pensar na felicidade, na alegria de viver. De como é acordar cada dia querendo viver; de como é viver sem a angústia de viver... Ah, a quanto tempo não sei o que é isso. A verdade, se é libertadora, também é angustiadora. Sim, pois a liberdade, as escolhas, a responsabilidade de ter que se tomar decisões importantes não só por você, mas pelos outros, isso sim é angustiante. A angústia faz parte da essência do ser, que cede a existência, quando o homem entende que é, que existe, antes de mais nada.

Lá vem a Filosofia outra vez. Desculpem, não consigo evitar. Maldito vício, maldita paixão arrebatadora, essa Filosofia. Um vício tão doce, tão especial, que me faz entender o mundo como nunca havia entendido, que me faz perceber que tudo é tão maior do que pensava e que ainda tenho tanto a aprender...

Ah, mas e os dias de Sol? Sim, os dias de Sol e felicidade. Amigos especiais, palavras de amor... pequenos sunshines que me lembram que há, sim, um Sol, imenso, lindo e revitalizador, atrás das nuvens cinzentas. Ah, sim. E um dia, baterão ventos tão fortes vindo do mar, que levaram estas nuvens, e poderei me banhar no Sol outra vez.

Num Sol que me trará, enfim, a alegria de viver.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Esperar pelo que não foi, pelo que quer que se seja. Por algo bom, muito bom, e feliz, pra você e pra mim. Espero, não tem problema. Teremos nosso tempo.

Pra Rafinha

sábado, 24 de outubro de 2009

Sinto sua falta, Amor

Sinto, sinto tanto. Sinto que o Amor se foi. Fez suas bagagens e partiu, como se nada devesse, nada quisesse e nada deixava para trás. Partiu, partiu... E sinto sua falta. O vazio aumenta, os sentidos se ampliam, na vaga esperança de captar algo diferente nesta triste e pobre realidade. O vazio, sim, o vazio. Não simples vazio, não só algum poço sem fundo, mas um vazio de úlcera, que corrói, e aumenta, aumenta... Até que a dor se torne tão insuportável que já os anestésicos “emocionais” não resolvem: o abraço do melhor amigo, o beijo na testa da mãe, o “obrigado” dito pelo desconhecido no metrô, o sorriso de uma criança pra você, o aceno de um soldado em guarda, o “bom dia” do seu Zé da padaria, o beijo da menina que se curte, o elogio da professora...

E o Amor se foi, sem olhar pra trás. Sinto falta do Amor, de amar. Saber que se é amado, que se é especial para alguém, saber que há alguém pensando em você. Sim, também sinto falta de sentir tudo isso por outro. Costume? Comodidade? Talvez... Mas era bom, me fazia bem, lhe fazia bem, e o Amor tinha uma casa confortável no lugar mais bonito do meu escuro coração.

Buscar o Amor, mas como, se não sei pra onde foi? Ele chegou em casa deprimido, jogou tudo em sua bagagem e se foi, sem nem olhar para trás. Mas o Amor se foi, se foi de bagagem e passagem na mão.

Passagem só de ida.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Desejo

E o desejo. É forte, intenso, muito intenso. Cego, excepcionalmente cego. Mas é desejo, oras! Desejo é desejo: se ama o desejo, e não o desejado. Penso e rio sobre tudo isso. Seria cômico, se não trágico. Mas nada, é brincadeira, coisa de universitário idiota.

Desejo, simples desejo. Desejo de ter, de tocar, de abraçar, se possuir, de sentir. Desejo de desejar. Saber que não se pode ter é pior do que não desejar. Pois desejando se fantasia, ah, e como fantasia. O ser humano tem a irritante mania de fantasiar histórias, sensações e desejos, especialmente desejos. Fantasia-se porque não se tem, não se tem porque não há como ser.

Dou outro sorriso e bebo mais um gole da vodka que desce mais uma vez queimando a garganta, pensando no desejo. Tê-la seria demais, seria irreal, quase que um momento em que ultrapassa as fronteiras do espaço e tempo para viver uma realidade metafísica. Pois o desejo é impossível. Impossível? “Improvável” seria mais correto. Muitíssimo improvável, ao ponto do absurdo. Mas desejo é desejo, desejo é pra ser desejado. Desejo pra ser fantasiado e satisfazer o ego nas noites frias em que se pensa na merda de vida que se tem.

Desejo é desejo, vivido ou não. Surreal, irreal. Mas o desejo, ah, o desejo. Ele sim alimenta a alma. Se não alimenta, engana a fome de ter. Ter, possuir, poder. Tocar, beijar, abraçar, afagar. Ter. Esse é o desejo, o desejo do irreal, do desejo do impossível, o desejo de tê-la.

Obrigado por me ensinar o que é o desejo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Sem mim, sem nós; sensível.

Tem dias que viver dói até os ossos. Arde. Incomoda feito farpa no dedo. Em dias como esse cada passo demora um século, cada palavra equivale a mil, e todos os sentimentos se juntam num turbilhão. As horas não passam. As pessoas não aparecem. O telefone não toca. Você anda pela casa apagando luzes, procura refugio em todos os quartos, zapeia pelos canais de TV, revê fotos, lê cartas, manda torpedos, assiste a filmes; nada te satisfaz. Nunca. Porque naquele momento viver dói tanto e essa dor te consome tanto que você chega a pensar que é tudo. Fecha os olhos e tenta imaginar qualquer coisa boa para conseguir dormir; o sono não vem e a tal coisa boa também não. Em dias assim tudo é grande demais e pesado demais e dolorido e triste e decepcionante. Em dias assim você se decepciona. Em dias assim, eu escrevo. Rabiscos inoportunos e mil folhas rasgadas; sempre em terceira pessoa. Em primeira pessoa fere demais. Revela demais. Deságua. Apontar o outro é mais seguro. Posso até fechar os olhos, em paz, e contar tudo como se a história não fosse minha, como se as Clarices e Helenas e Luizas, de fato, existissem e vivesse tão dolorido quanto eu. Às vezes viver é um tapa na cara. E não interessa de onde vem a mão e se, ela, teve motivo. Que me interessa a porra de um motivo? A mim não importa os motivos, os princípios ou a culpa. Ta doendo, caramba! Ta doendo como fratura exposta, álcool em dedo cortado, puxão de cabelo, mão na tomada. PUTAQUEPARIU! Em dias assim... Em dias assim EU GRITO! Em dias assim vale tudo. Canto para os surdos, corro de encontro ao nada, te esqueço milhares de vezes, me esqueço o dobro, viro fumante, viro alcoólatra; viro poeta. Em dias assim eu escrevo — disse Ela.
Em terceira pessoa fica mais fácil.




"Escolha feita, inconsciente, de coração não mais roubado”

Texto da Carol, do blog Arlequim.

domingo, 18 de outubro de 2009

Angústia!

Sim, Angústia! Eis que se revela então! Angústia... Sim, a doce e amarga Angústia. Traduzir sua dor foi tão difícil, quase um parto emocional... Mas enfim entendo e vejo: Angústia.

Todos os dias, aquele medo, aquela solidão, aquela aflição do "não-sei-o-que"... Agora entendo e vejo que eram as máscaras da Angústia. Sorrateira, já invadiste meu coração antes, mas lhe expulsei e prometeu nunca mais voltar. Mas voltou. Em algum momento, abrigou-se de novo ali. Vestida de cinza, que lhe caí muito bem, ela embora tão imponente e poderosa, mostra-se tão dependente de mim.

Não, não, querida Angústia. Devo pedir para que se vá, voltar para o lugar escuro e frio de onde veio. Não é aqui o seu lugar, e já não posso mais lhe abrigar em mim. Porque me dói, todos os dias, em todos os momentos, então te peço, minha doce Angústia: vá. Pois, embora me seja cruel, eu te gosto, mas não posso, não quero. Alimente-se de outro espírito fraco, vá! Vá e não volte, pois o meu espírito já arruinaste.

E das cinzas em que deixaste meu coração, tento fazer-lhe novo. E que das cinzas, como a Fênix, possa surgir algo bom, tão bom, pra mim. Pois não posso, não quero mais a Angústia. Meu coração já não é seu, e não será de novo. E se voltar, lhe expulsarei novamente. Pois os estragos que fizeste são quase todos remediáveis, e os que não são, dá-se um jeito. Mas não lhe quero mais. Quero viver, quero coisas boas, quero a cor das coisas, a cor do mundo. Quero ser feliz outra vez, e vou ser.

Pois meu coração não será seu, Angústia. Não será.

Rumo à solidão

Não diga o que eu devia fazer.
Só escute, se for capaz, as minhas palavras mudas.
Ouça, se for capaz, tudo o que eu digo sem abrir a boca.
Sinta se for capaz, a dor que eu sinto sem gemer.
E descubra, se for capaz, o segredo que eu tenho sem nunca sabê-lo.

Não diga que tudo irá dar certo
sem antes me apontar o caminho mais curto para a solidão
e não diga
que a solidão não existe
pois é, na verdade,
o próprio caminho a se trilhar.

Eu já não tenho mais nada a fazer
a não ser atravessar essas portas fechadas
e chegar ao outro lado
com aquela falsa sensação de vitória.

E não há uma vitória sem uma gota de lágrima
mesmo que seja invisível.
E não há uma gota de lágrima sem uma dor
mesmo que seja fraca.
E não há uma dor sem uma mágoa
mesmo que seja esperada.
E não há mágoa sem a morte de qualquer coisa
que se amava
mesmo que não seja física.

E o meu próprio-amor-próprio
é a invísivel e fraca espera do não físico
do abstrato e diluído no espaço
que está por trás daquilo que é sólido.

E o que é a solidão
a não ser esse ser não sólido
que vive a nos espreitar
num canto da sala?

Mas não há um amor-próprio sem um egoísmo
mesmo que seja domado.
Mas não há um egoísmo sem uma raiva
mesmo que seja calma.
Mas não há uma raiva sem um desejo de destruição
mesmo que seja tolerante
de tudo aquilo que é humano.

E a minha tristeza
é o tolerante e calmo domínio
que tenho sobre tudo aquilo
que é desumano em mim.

E o que é o caminho
a não ser essa estrada insegura e torta
sobre o tapete colorido da sala?

Não esperava essa agressividade
em tua cara.
Não contava com esse pouco caso
em teus olhos.
Não aguardava essa arrogância
em tua casa.
Não pressentia essa decepção
em meu peito.

Agora deixe despedir-me de tudo aquilo
que é vibrante e claro em sua essência
para que não haja nenhuma saudade
do que eu não tenha visto nesta descendência.

E assim sigo rumo à solidão
que não é depressão
e sim o som de uma densa música
e seu refrão.
E assim sigo rumo à solidão
que não é suicídio
e sim a esperança de uma longa felicidade
e seu início.

Marcio Rufino

sábado, 17 de outubro de 2009

Qual é o problema?

“Portanto, o que é a verdade? Uma multidão de metáforas, metonímias [...] enfim: uma soma de relações poética e retoricamente potencializadas, transpostas e ornadas e que, depois de longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões sobre as quais se esqueceu tratar-se de metáforas que se tornaram usadas e sem força sensível, moedas que perderam seu valor e agora são consideradas apenas metal, e não mais moedas.”
Nietzsche

Discutir religião sempre foi complicado. E ainda é. Há pessoas que acham a idéia de debater o assunto simplesmente absurda (ninguém gosta de ouvir críticas à própria religião, e menos ainda de ser criticado por ser de determinada religião). E não existe motivo para tirar a razão delas, já que discutir religião ressalta as diferenças ao invés das semelhanças. No entanto, existe o direito de discutir o assunto, assim como existe o direito de liberdade de expressão. Logo, debater ou criticar religiões é um direito de todos, mesmo que muitos abram mão desse direito para a manutenção da (boa) convivência.

Evangélicos, católicos, panteístas, ateus, agnósticos, Testemunhas de Jeová, cada um tem sua(s) opinião (ões). Quando existe o desejo, a intenção de emitir essa(s) opinião(ões), não é em qualquer lugar e em qualquer contexto, isto é, em qualquer situação, que isso é feito; geralmente, isso acontece quando todos estão dispostos a discutir o tema de uma forma civilizada, sem levar (muito) para o lado pessoal, como nas escolas, que não têm ensino religioso (obrigatório), mas têm aulas de História, Sociologia e Filosofia; nessas disciplinas, é impossível fugir do assunto; mesmo que alguém não queira giões espíritas são. A maioria da população brasileira não é espírita, o que acaba tornando comum o fato de muitas pessoas criticarem esse tipo de religião sem serem confrontadas, mesmo havendo o consenso de que não é bom discutir religião. Entretanto, se alguém apontar defeitos de uma determinada igreja protestante, por exemplo, terá boas chances de ser repudiado quase que instantaneamente. Não é difícil (apesar de triste) imaginar uma pessoa se afastando de outra por essa última ser espírita. Crianças, jovens e adultos espíritas sofrem discriminação.

Qual é o problema com a Umbanda? Qual é o problema com o Candomblé? Qual é o problema com o Kardecismo? Qual é o problema com o espiritismo? Preconceito é a resposta.
As pessoas são preconceituosas e ignorantes. Com exceção dos hipócritas, que já foram a algum terreiro para consultar algum espírito e depois falaram mal da religião cujo templo lhes ofereceu ajuda, as pessoas parecem desconhecer e ter uma profunda antipatia a qualquer coisa ou idéia que tenha a ver com religiões espíritas. Palavras como “incorporação”, “orixá”, “Exu”, e outras, soam desagradáveis aos ouvidos de muitos, como se fossem algo indecente, errado, horroroso. Lamentável. As pessoas que enxergam dessa forma, na verdade, estão cegas. Não que haja intenção de apoiar, defender ou dizdiscursar, vai ter de ouvir um discurso sobre religião (o que não é absurdo algum, uma vez que o país é uma democracia). Mas há algo que chama a atenção. No Brasil, a Umbanda e o Candomblé são duas religiões muito mal conhecidas e muito mal vistas. O Kardecismo também. Todas as relier que as religiões espíritas são as certas e as outras as erradas. Nada disso. Mas sim a de dizer que essas religiões... São religiões. E que fique bem claro que o autor deste trabalho é agnóstico e, há alguns meses, era ateu.

Discordar dos preceitos de uma religião que não seja a própria é muito comum. Por exemplo: Um freqüentador da Igreja Batista discorda de alguns ensinamentos católicos, e vive-versa. Porém, no caso das religiões espíritas, parece haver algo mais, algo além da pura diferença de doutrina. É como se houvesse um verdadeiro sentimento de repulsa por elas. Todas as religiões, apesar das diferenças, têm algo em comum: A crença em Deus. É graças a essa crença comum que católicos, protestantes e Testemunhas de Jeová conseguem se relacionar e não mostrar a face da discriminação e da intolerância uns aos outros no Brasil. É fato que em outros lugares do mundo as coisas não são bem assim: Muitas mortes houve por causa de religião, por causa dos conflitos gerados entre os fundamentalismos (religiões consideradas sagradas baseadas em livros tidos como sagrados também) islâmico e judeu. Mas no Brasil, um país democrático, não deve haver intolerância e tanta aversão a religiões espíritas. Ou, pelo menos, não deveria haver. As religiões espíritas crêem em Deus, e tem seus próprios códigos de conduta. É possível enxergar essa semelhança nas outras religiões. Por que não é possível fazer o mesmo na Umbanda, no Candomblé e no Kardecismo?

Imagine uma criança que tem pais evangélicos. Agora, imagine outra que tem pais umbandistas. A primeira muito provavelmente discriminará as religiões espíritas e dificilmente será instruída a não falar mal delas (afinal, a maioria é como ela, ou seja, não é espírita; o que há a temer?). É claro que pode acontecer de ela ser alertada a não criticar religião alguma, espírita ou não, e a não discriminar e a ter tolerância, mas a tendência é sempre criticar as religiões espíritas e seus seguidores e “respeitar” as demais. No entanto, a aversão a religiões espíritas, embora nem sempre declarada, é, no mínimo, incentivada nos filhos de pais não-espíritas; parece que os pais acham isso bom, natural até. Pare para contar: Quantas pessoas sabem a diferença entre a Umbanda e o Candomblé? Ou melhor: Quantas pessoas sabem que Umbanda e Candomblé são religiões diferentes? A maioria as chama vulgarmente de “Macumba”. E isso porque, quando crianças, não receberam instrução, apenas preconceito. Já a segunda criança, filha de umbandistas, ou será instruída a não revelar a sua religião (tarefa difícil, pois sempre há quem pergunte) ou será instruída a argumentar a favor dela e não criticar as demais. Esse ensinamento acaba ficando para o resto da vida.

É triste ver que o preconceito às religiões espíritas são preservados. E mais triste ainda é ver que eles não têm fundamento. É difícil entender por que existe tanto preconceito e discriminação. Os umbandistas, kardecistas e seguidores do Candomblé não saem aos domingos para bater de porta em porta incomodando as pessoas para convencê-las de sua verdade e, mesmo assim, são mal vistos. Eles não fazem pregações escandalosas, nem em templos e nem em trens, e nem pedem dinheiro com promessas de retorno e, mesmo assim, são mal vistos. Eles nunca foram até uma igreja em construção apedrejá-la e destruí-la e, mesmo assim, são mal vistos. Nenhum umbandista, kardecista ou seguidor do Candomblé foi responsável por grandes manobras políticas (mesmo que um garotinho tenha muitos doces no bolso e na barriga por apenas um real) e, mesmo assim, são mal vistos. O que é alegado, então? Que a religião deles “não é de Deus”? Que ela é “coisa do Diabo”? Que ela tira as pessoas do “caminho da salvação”? O que mais vai ser dito? Que ela é “maligna”? Que ela incentiva a “fazer o mal”? Que ela tem vínculos com os maias budistas? Ou com os incas venusianos?
Com o passar dos anos, o preconceito vai diminuir, mas sempre com o risco de aumentar. Ele nunca vai ser erradicado. Ele pode ser apenas acuado, diminuído. Isso se faz combatendo-o, e combate-se o preconceito – todo o tipo de preconceito, não apenas o religioso - nas escolas, sendo que o religioso deve ser combatido justamente nas aulas (de História, Sociologia e Filosofia) em que é impossível fugir do tema religião. Cabe, sim, não somente aos pais, mas à escola, também, combater o preconceito e a intolerância religiosa (aliás, ao contrário do que alguns DESeducadores dizem, a escola é, sim, um lugar para receber educação e formação; o lar dos alunos chefiados por pais e mães não é o único lugar para isso). O ideal é evitar discutir religião e, contudo, se houver intenção de fazer isso, que seja em situações apropriadas e com muito cuidado, mesmo, para que as diferenças não sejam muito realçadas e conflitos não sejam gerados. É difícil dizer se os adultos espíritas que trabalham devem ou não esconder a sua religião no trabalho devido ao que podem enfrentar, mas, fora desse ambiente, dificilmente haverá razão para esse fato ser escondido. E os jovens espíritas não devem esconder o fato de serem adeptos ao espiritismo, seja por qual motivo for: medo de ser alvo de piadas, medo de não fazer amigos (ou de ser excluído do grupo de amigos). Nada disso pode ser usado como desculpa para esconder o fato de ser espírita. Ninguém deve esconder o fato de acreditar em determinada religião (assim como nenhum ateu deve esconder o fato de ser ateu). Se uma pessoa (ou grupo de pessoas) deixar de falar com outra por essa última ser espírita ou atéia, que assim seja: isso é motivo de comemoração, pois alguém que deixa de falar com outro alguém só porque o último é espírita ou ateu, nunca mereceu a amizade ou companhia desse último alguém. Não há alegria maior que ficar livre da companhia de pessoas falsas e preconceituosas. Não há felicidade maior que saber quem é realmente amigo e quem não é. Além do mais, enquanto muitos esconderem sua crença (ou descrença), a situação de preconceito não mudará tão cedo. Em outras palavras, não ter medo é a primeira ferramenta a ser usada para acuar o preconceito. Ninguém é obrigado a concordar com a religião de alguém. Mas todos devem respeitar os seguidores de uma religião. Ninguém é obrigado a crer em Deus. Ninguém é obrigado a descrer Nele também. E todos têm o direito de crer Nele de um jeito diferente, com uma religião que cada um escolher, que cada um achar melhor. E todos merecem respeito. Todos, não importando no quê acreditam ou deixam de acreditar. Agora, só para aqueles que têm religião: ninguém tem o direito de desrespeitar e discriminar uma pessoa por ela ser de alguma religião espírita ou não-espírita. Um evangélico, por exemplo, não deve sentir antipatia a um umbandista. Afinal, ambos crêem em Deus, e quem tem vidraça não deve atirar pedra. Não é tão difícil assim. O Brasil é um país laico e também uma democracia, não é verdade?

Por fim, para aqueles que não entenderam a epígrafe deste texto, que é um pensamento de Nietzsche, aí vai a tradução: Nietzsche pergunta o que é a verdade e responde dizendo que a verdade, na realidade, são apenas idéias que se aproximam da “verdade verdadeira”; idéias essas que são transmitidas com vários recursos, como metáforas, e que passaram a ser consideradas absolutas com o passar do tempo, mas, na realidade, elas são só ilusões, e alguns não se dão conta disso; alguns não percebem que a “verdade” são apenas idéias que tentam se aproximar dela; idéias essas que, segundo Nietzsche, apesar de aceitas por alguns, estão ultrapassadas e rejeitadas por outros (para ele, são como “moedas que perderam o valor e tornaram-se apenas metal”). Logo no início, Nietzsche diz que a verdade é “uma multidão de metáforas e metonímias”, já indicando que ela é falsa. Há um quê de hostilidade e arrogância nesse trecho. E não é por menos: Não bastasse a “verdade falsa” ser tida como verdadeira para muitos, nem todos realmente a compreendem (daí o motivo de Nietzsche dizer que ela é uma “’multidão’ de metáforas e metonímias”, pois elas são aceitas sem serem analisadas com profundidade). Ou são mal interpretadas. Ou não, pois não existe uma única e verdadeira interpretação, mas tantas quantas forem os intérpretes. Então, caro(a) leitor(a), que chegou até aqui, se você tiver alguma “verdade absoluta”, seja ela um livro “sagrado” ou não, fique sabendo que ninguém é obrigado a aceitá-la e, se você a aceita deve estudá-la a fundo, para que, mesmo ela sendo considerada falsa por Nietzsche, mesmo que ela seja tida somente como uma tentativa de aproximação da “verdade verdadeira” por ele, estude-a, para que ela não se transforme em uma multidão de metáforas e metonímias sem sentido para você aceitá-la apenas como um fantoche. Acredite nela se quiser. Mas estude-a. E, como diria um amigo do autor deste texto, EXponha-a, e não IMponha-a: aceite que nem todos são obrigados a aceitá-la, que os outros podem considerá-la falsa e buscar outra. Assim, se todos puderem conviver com as diferenças de opinião do que é a verdade e de opinião religiosa, haverá menos discriminação e menos preconceito.

Texto de meu amigo Márcio Alessandro de Oliveria, do blog "Alguém berra".

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

E...

E eu me pego só de novo,
Imerso em pensamentos dolorosos.
Não, não, o velho fantasma se foi
Mas o fantasma de mim mesmo fica
Para me atormentar todos os dias,
todas as noites.

E de repente bate uma melancolia.
Uma vontade de tentar tudo diferente
Pra ver se pelo menos dessa vez, dá certo
Mas os medos vem à noite, junto às sombras
E e vem a tristeza, a dor
A solidão, especialmente, solidão.

E então penso que já temo,
Temo perder o que já tenho em você,
E guardo minhas confissões a desconhecidos
Por medo, por puro medo
Medo de que as coisas mudem
Acho que tenho medo do inconstante.

E te ter me conforta, de algum estranho modo
O medo da solidão me atormenta
Mas sei que estará lá
No lugar mais lindo do meu coração.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Stalingrado

Era inverno ano de 1942.

- Mama, levanta, levanta! Levanta, mama!

A criança balançava o corpo inerte e frio de sua mãe, enquanto lágrimas jorravam de seus olhos. O som assustador dos panzers mergulhando sobre Stalingrado, ao mesmo tempo em que despejavam toda a sua carga explosiva sobre os prédios. Aqui se repetia a meses, mas o menino e sua mãe conseguira sobrevive num porão abandonado de um prédio baixo. Entretanto, a comida acabou, e sua mãe foi procurar mais, quando um outro ataque começou...

- Levanta, mama! Eles estão vindo... - e ele olha assustado para o fim da rua, de onde já se ouve o ruído lento e progressivo dos tanques se aproximando.

"Por que? Quem são eles? O que é que está acontecendo?". Tinha somente 9 anos, mas já se via em meio a neve, sendo atacado por todos os lados por pessoas que nem conhecia. Sua mãe estava machucada, ele via o sangue, mas por que? O que ela fez?


(texto incompleto)

Esse é apenas o rascunho de um conto que está surgindo na minha mente. Há algumas semanas meditei sobre a possibilidade de escrever um romance de guerra, mas repleto de discussões filosóficas, sobre o ser humano, o sentido de ser, a natureza humana, a crueldade e o sentido da guerra. Mas até agora, só esboços.. Vamos ver no que dá.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Amado pai...

Um dia perguntei:
- Pai, quando me viu pela primeira vez, o que pensou?
Ele olhou pra mim, deu um sorriso e disse: - Pensei que te amaria, protegeria e que dedicaria minha vida a você. – Ele parou, olhou para frente, para o horizonte, então olhou novamente pra mim e disse:
- Desejei que de todo o coração que você fosse feliz.

Meu pai, marceneiro de profissão, desempregado, 54 anos, pernambucano, com ensino primário incompleto. Pai de família dedicado, por todos queridos.
Como algo tão profundo e expressivo pode vir da boca de um homem tão simples?

Obrigado, Geraldo Luiz da Silva.

Obrigado, Pai.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Hoje foi um dia muito especial.
E pra sempre estará guardado no meu coração.

Beijo, Rafinha!

domingo, 11 de outubro de 2009

Enfim, um dia de Sol...

Seguir em frente, virar a página... Mais um capítulo do Livro dos Dias foi escrito e findado. Não, o livro não acabou, só um capítulo foi encerrado. Engraçado: este capítulo teve tantos altos e baixo, mas foi tudo tão lindo, embora o autor tenha pecado no final, que infelizmente, não teve um desfecho muito bom.

Mas isso pouco importa. O que importa, de fato, é continuar. Como li em outro blog, “Só depende de mim superar qualquer tipo de tristeza, magoa, arrependimento e viver as alegrias que tenho pela frente. (...) Se tudo deu errado, vire o jogo! vá em frente, guarde as experiências (e cicatrizes) para serem usadas futuramente. Espere sempre pela próxima vez.” ()

A dor, a tristeza e todo o sofrimento lhe arrebataram, mas também lhe fortaleceram. Foi forte, foi intenso, foi cruel, foi doloroso, mas está tudo bem. Nunca foi o sujeito mais feliz ou otimista do mundo, mas Caio F. o traduzia: "Sofre horrores, mas continua do bem, sempre inventando histórias com final feliz" – Caio F.

E ele foi, sabe? Foi mesmo, sem medo, encarando o que vier. Afinal, cada combate vivido, perdendo ou ganhando, só torna o guerreiro mais experiente para garantir sua vitória no próximo combate. Resolveu que seguiria em frente, vivendo, sempre seguindo. Guardaria pra sempre todas as lembranças (as boas, pois lhe trazem felicidade; as ruins, pois lhe ensinam), e tenha certeza, você sempre estará ali, no seu coração. Pra sempre.

“Chegou a hora de recomeçar...”

¹ Nota do Autor:

Aos meus dois leitores: sei que estou um porre, escrevendo horrores sobre Filosofia, em textos gigantescos que nem vocês dois, os meus mais fiéis (e únicos) leitores aturam ler. Peço humildemente desculpa e tentarei balancear mais no tema dos textos (e sua abordagem também).

Novamente: desculpem-me. Estou tentando ser moderado e, em breve, voltarei as minhas baboseiras melancólicas. Idéias vão surgindo. E lá vamos nós...

sábado, 10 de outubro de 2009

Crítica a hipocrisia da moralidade..

Foi durante uma discussão, após a aula de Filosofia da Educação, sobre a moralidade, que tive a idéia de escrever esse texto. Aqui pretendo discutir sobre o que se supõe ser a moral, qual a sua finalidade, suas limitações e, sobretudo, sobre a tão irritante hipocrisia da moralidade. Além disso, ainda pretendo fazer algumas ressalvas sobre a moralidade e seus malefícios a consciência racional, mostrando os grilhões de uma falsa moral, a muito já corrompida, e a estupidez dos que a seguem cegamente como norma de vida, sem nem ao menos entendê-la de fato. Obviamente, justificarei (com base em argumentos e não em conceitos morais ou religiosos) meus pontos de vista, buscando realizar uma crítica bem elaborada e construtiva.

Começo minhas argumentações com uma afirmação provocante: a moralidade é um veneno! E por que? Pois bem, para discutirmos isso, se faz mister que passemos por todo o processo de atitude filosófica: o que é moralidade, como é a moralidade e porque é a moralidade. Somente então, poderemos elabora uma crítica coerente ao entendimento da moralidade tal como é.

A moralidade é um conceito abstrato que representa em si um conjunto de valores de caráter normativo, criados (e impostos) pelo Homem [¹]. É, acima de tudo, um construto humano. Ao que parece, o cumprimento de tais normas e costumes é condicional para o bom convívio social. Parto do princípio então, que sendo um conjunto de valores, e tais valores são variáveis de acordo com seu condicionamento, a moralidade também o é. Isto quer dizer que a moral é uma variável: embora tenha em si uma base, uma pré-disposição de ser, está condicionado invariavelmente ao meio por fatores como cultura, história, geografia, economia, política, entre outros aspectos. Em suma, a moral está condicionada a fatores externos, fatores da sua realidade sócio-cultural. Talvez um bom exemplo disso seja a condição da França como uma das nações que mais preservam os princípios de liberdade individual, provavelmente originário de sua História, com os ideários iluministas de liberdade e igualdade.

Um fator bastante curioso e que permite a moralidade um caráter quase que dogmático é a falsa imutabilidade da moral. Depois de condicionada e estabelecida, parece que a moral se torna uma espécie de tabu, ao qual ninguém ousa quebrar, garantindo assim a idéia absurda de que a moral é uma verdade absoluta. Assim sendo, o que há na verdade é a estagnação de um conceito que ainda se tem muito a ser discutido e pensado. A idéia, a construção do conceito simplesmente cessa, sustentando ainda mais a idéia irracional de imutabilidade da moral. Quando pararemos para refletir o por quê de conceitos quase medievais ainda estarem presentes em ensinamentos passados de pais para filhos nos dias de hoje?

O que deve ser pensado quanto à questão da falsa verdade absoluta da moralidade, é de que a moralidade é composta por valores, valores criados pelo Homem. Sendo assim, esse mesmo Homem tem a capacidade e o poder, talvez até mesmo o dever, de está sempre repensando em tais valores, avaliando sua aplicabilidade tendo em vistas nas mudanças sócio-culturais do mundo hoje. Ao Homem cabe o papel de Deus neste sentido: criar, recriar, destruir, reformular e moldar os valores, que são a ele vitais para o convívio social e entendimento do mundo. Não há Verdade imutável.

Tratando do aspecto do “como é a moralidade?”, é fundamental que entendamos qual a estrutura e quais as relações que constituem a moralidade. Em nossa sociedade atual, vivendo a era da informação, a moralidade se dá como regulador de normas e condutas sociais. Assim podemos nos indagar: moral individual ou coletiva? Individualmente, a moralidade age como um limitador de interesses e valores coerentes e aceitos pelo (in) consciente. Ou seja, desse ponto de vista, a moral age apenas sobre o Eu, restringindo de nossa mente (conseqüentemente, de nossa realidade) o que não nos é cabível ou aceito pela nossa mente (que pode agir assim consciente ou inconscientemente, mas tal tema corre ao âmbito da psicologia, não cabendo aqui).
De outro modo, a moral poderia agir de maneira coletiva, e é aí que reside o problema! Explicarei melhor: de forma coletiva, a moral deixaria de atuar sobre o Eu e tentaria impor-se aos demais, privando os outros indivíduos do direito de conceber para si sua própria concepção de moral. Entendam que não defendo Sodoma [²]; defendo sim, a queda da hipocrisia, que em sua forma menos repudiosa, se apresenta de modo destrutivo, intolerante, cega e que enaltece o ódio ao “infrator moral”, dando margem a verdadeiras patologias sociais, como o preconceito, racismo, intolerância religiosa, entre outras coisas. Além do mais, não defendo o fim da moral (tendo alguns dos valores que a compõe fundamentais para o estabelecimento de um futuro melhor), e sim sua reformulação conceitual com base na extinção da hipocrisia que nos envenena a cada nova geração.

Outro ponto de que gostaria de salientar é a diferença estrutura e conceitual entre senso moral e consciência moral. O senso moral é o conceito que define o que sentimos quando somos levados a agir em razão do próximo, agir pelos nossos valores éticos e ainda pelo sentimento de igualdade entre si e o próximo. Ou seja, o senso moral leva uma pessoa a agir inconscientemente diante de uma situação a qual é levado a prova seus sentimentos quanto ao próximo e seus valores sociais. Ao sentirmos piedade e solidariedade pelas vítimas das chuvas em Santa Catarina, e participamos de uma campanha de ajuda, estamos ponto em prática nosso senso moral. Além desses, sentimentos como compaixão e injustiça impulsionam o senso moral. Já a consciência moral atua na tomada de decisões relacionadas ao comportamento da pessoa, pois necessita tomar decisões relacionadas a si próprio e a outras pessoas, de forma que seja responsável por estas e ainda assuma as conseqüências de tais decisões. O discernimento promove a relação entre os meios e os fins que auxilia na distinção de reações morais e imorais.

Percebemos então, como sendo composta de valores (em sua maioria, corruptos em irracionais), a moralidade está sujeita a críticas, grande parte direcionada a seu caráter normativo e hipócrita. Por que hipócrita? Além das inúmeras discrepâncias referentes puramente ao conteúdo de sua série de normas de conduta, o mais importante é, sem dúvida, que a moralidade, tal como é hoje, é um veneno para o indivíduo racional! Sob a alegação do melhor bem-viver (que, estranhamente, exclui os grupos menos convencionais da sociedade), ela age como uma máscara para a realidade e para a verdadeira natureza do Homem, escraviza a consciência!
Acredito que o primeiro passo para a queda da hipocrisia da moralidade nos tempos de hoje seja, antes de tudo, o respeito a liberdade pessoal de cada indivíduo. Este é um fator condicional para este pretensa reforma. Argumentando com um amigo, este me disse: “Imagine, eu levando minha mulher e meus filhos para um restaurante e, chegando, na mesa do lado, dois homens começam a se beijar. Poxa, isso é uma agressão a minha liberdade!”. Eu, calmamente, perguntei “Em que sentido?”. “Oras, no sentido de que quero ter uma tarde tranqüila com meus filhos no restaurante e quando chego lá, vejo isso!”. Creio que este diálogo demonstre a que nível a moralidade envenena as pessoas.

Não respondi na hora, mas refletindo depois, pensei sobre a questão. Em que aquele casal homossexual estaria violentando a liberdade de uma tarde tranqüila de meu amigo e sua família? Ele, que nasceu em certo tempo e lugar, teve determinada educação e foi introduzida a determinada cultura e a algum pensamento religioso, se sentiu agredido com aquele ato, mas será que seu filho, que nasceu em um tempo diferentes, num lugar e cultura reformulados e foi educado de um modo completamente diferente, pensará do mesmo modo? Será que daqui a alguns 50 anos esse ato de um casal homossexual causará tanto impacto a uma outra família, também com fatores condicionais completamente diferentes?

Por esses e outros aspectos, reafirmo que a atual moralidade é um veneno! Reafirmo que ela escraviza a consciência e mascara a realidade. Para mudarmos esse quadro, é necessário trazermos a mesa novamente esses temas, de modo a agir como Deus e reformular a nossa realidade. Vimos como diversos fatores condicionam a atual situação de uma sociedade regida por uma moralidade hipócrita e corrompida! Entretanto, nenhum desses fatores é determinante, cabendo a nós a mudança, como sempre o foi. O entendimento da moralidade como um mal que nos torna cegos e nos envenena a cada é o primeiro passo para a mudança, e é isso que estamos tentando fazer.

"O medo é o pai da moralidade." - Friedrich Nietzsche

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Um grito de Liberdade..

Cantada desde de tempos imemoriáveis, amada por artistas e poetas, sonhada por todos. Lema de revoluções; em seu nome, litros e litros de sangue derramados ao longo da História. Dos pensadores pré-socráticos, aos pais do capitalismo e comunismo, passando pelos fundadores de movimentos como Renascimento e Iluminismo: todos almejaram e a desejaram, muitos dedicando sua vida inteiramente para alcançá-la. Possuí-la significa ser dono absoluto de si. Todos anseiam, todos precisam, todos querem, embora a maioria não a entenda.

Liberdade.

Mas o que diabos é a liberdade? Cegos são os homens que acreditam que a possuem. Pense: és livre? Faz o que queres? Nada te impede de querer e poder? Sem dúvida, a resposta de todas as perguntas foi “não”. E porque?

Supõe-se que a liberdade seja um bem pessoal, único e individual, que nos garante o direito de agirmos conforme nossa vontade. Entretanto, nos encontramos em meio de uma série de restrições a nossa liberdade, como moralidade, ética, normas de condutas sociais, etiqueta, padronização social (voluntária), entre outras coisas. Segundo Montesquieu, “liberdade é o direito de fazer tudo aquilo que as leis permitem". Mas liberdade restritiva é liberdade? Se você quiser contar uma piada em um velório, poderá fazê-lo sem sofrer represálias das outras pessoas? Pessoas que assim como você são teoricamente dotadas de liberdade e compõe a mesma sociedade, que tiveram basicamente a mesma educação e os mesmos princípios morais?

A liberdade é um bem defendido desde o início da civilização. Mikhail Bakunin, filósofo anarquista, defende que o homem era livre apenas em seu estado selvagem. Complementando-o, digo que o homem era livre até o estabelecimento da divisão social do trabalho, que surgiu já no primeiro processo “civilizatório” da humanidade. Quando um homem deteve em si o direito de coordenar e definir qual o homem trabalharia fazendo o que em prol de estabelecer um equilíbrio de produção, sob a justificativa de que seria para o bem de todos, a liberdade do homem foi ferida. Ou talvez eu esteja errado, e o homem conduziu sua produção segundo o bom senso, consciente de que sua decisão poderia prejudicar outros. Mas há um fato que definiria essa questão: sofreria represália, social ou mesmo física, o homem que decidisse por si, em nome de sua vontade e liberdade, não plantar o que lhe era designado, ou se dedicar a religião ao invés de plantar, ou mesmo o homem que, embora talentoso agricultor, desejasse trabalhar na administração da comunidade?

Um outro fator muito importante, talvez tão importante quanto a questão da liberdade, é o bom senso para a liberdade. Até mesmo a liberdade tem limite, e tal limite é o bom senso. Não pense que sou contraditório, uma vez que defendi que liberdade restritiva não é liberdade, pois continuo pensando assim. O bom senso que defendo e a que me refiro não é um bom senso hipócrita moral, ou que segue as condutas tolas de uma sociedade cega. O bom senso em que acredito é o bom senso da auto-preservação, o mesmo do homem “selvagem” (que em certos aspectos era mais civilizado que o homem moderno; mas a questão do que seja a civilidade fica para outra discussão). Liberdade não é sair por ai andando nu só porque quer senti o vento. Isso não é liberdade, é tolice. Não me refiro aqui sofre seguir normas sociais hipócritas, da qual sou fervoroso opositor, mas do fato de que devemos sempre lembrar que a liberdade é um direito individual, e a sua liberdade termina onde começa a do próximo.

"O homem nasceu livre, e em todos os lugares ele está acorrentado."
(Jean-Jacques Rousseau)

terça-feira, 6 de outubro de 2009

E a verdade?

Hoje pude ver um dia ensolarado, com o céu azul anil,
com raros rabiscos brancos de nuvens.
Hoje senti que era invisível, que podia andar por onde quisesse, fazer o que quisesse
ninguém me veria, ou se importaria

Hoje senti um sopro de vento quente que me lembrou que existe um mundo
Uma vida esperando ser vivida, um tempo que não me esperaria
Hoje vi a Lua Cheia por entre os montes,
e tive certeza de que a vida é muito maior que isso.
Ainda não entendo o sentido da existência, mas entendo que existo e que me devo existir.

Durante todo o dia quis gritar,
gritar que sou livre, que amo, que odeio,
que sou humano, que sou eu.
Me devo este grito, me devo essa sensação de felicidade
Não sei quando a felicidade vai vir, mas quando vir (e ela sempre vem),
vou aproveita-la em cada milésimo de segundos.

As emoções passam em meu coração como os pensamentos em meu cérebro:
como relâmpagos, fortes, rápidos e devastadores
Se a dor faz parte de mim, a esperança também
Mas seria isso bom, se a esperança é o pior dos males?
A caixa de Pandora não é um baú de tesouros.

O coração bate, a cada dia mais devagar
Uma hora pára, mas essa hora demora, vai demorar
Porque tenhos sonhos a realizar, livros a publicar, viajens a fazer, mulheres a transar (Jolie?)
Tenho momentos para serem vividos, histórias para contar, alunos a educar.
Meus espermatozóides serão a próxima geração.

Temos muito ainda por fazer.

Olho pra frente, pra um futuro invisível aos outros
Somente os inteligentes podem ver a roupa que não existe
Somente os burros veem a verdade como é
E o que é a Verdade?


A verdade, meu irmão, cada um faz a que lhe serve melhor.

sábado, 3 de outubro de 2009

Shaman - Innocence

Hoje eu acordei
Dentro de um trem de sonhos
A chuva forte caía em preto e branco
Eu parei e olhei fixamente
O resto do que sobrou
Meu próprio mundo se desmoronando

Eu prendi minhas lágrimas
um dia vem após outro

A chuva que caiu
acariciou minha pele novamente
Só deixe-a fluir para eliminar
O tempo que passou
Sentindo negado por muito tempo
Meu coração não está mais amarrado em dor

E agora está claro
Um dia segue o outro
Eu sequei minhas lágrimas
Há tanto para se descobrir em outro lugar

Eu ouço o som
de mil vozes
Eu perdi minha inocência
Eu estou no meu caminho
Através do deserto
Para resgatar o que eu enviei
Fora do meu coração
Distante

E agora está claro
Um dia segue o outro
nós enfrentaremos nossos medos
e acharemos o caminho de volta para cada um

oh!

Eu ouço o som
De mil vozes
Eu perdi minha inocência
Eu estou no meu caminho
Através do deserto
Para resgatar o que eu enviei
Fora do meu coração

Eu ouço o som
de mil vozes
Eu perdi minha inocência
Eu estou no meu caminho
Através do deserto
Para resgatar o que eu enviei
Fora do meu coração
Distante

Só isso basta..

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.

A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão."

- Caio F.