Foi durante uma discussão, após a aula de Filosofia da Educação, sobre a moralidade, que tive a idéia de escrever esse texto. Aqui pretendo discutir sobre o que se supõe ser a moral, qual a sua finalidade, suas limitações e, sobretudo, sobre a tão irritante hipocrisia da moralidade. Além disso, ainda pretendo fazer algumas ressalvas sobre a moralidade e seus malefícios a consciência racional, mostrando os grilhões de uma falsa moral, a muito já corrompida, e a estupidez dos que a seguem cegamente como norma de vida, sem nem ao menos entendê-la de fato. Obviamente, justificarei (com base em argumentos e não em conceitos morais ou religiosos) meus pontos de vista, buscando realizar uma crítica bem elaborada e construtiva.
Começo minhas argumentações com uma afirmação provocante: a moralidade é um veneno! E por que? Pois bem, para discutirmos isso, se faz mister que passemos por todo o processo de atitude filosófica: o que é moralidade, como é a moralidade e porque é a moralidade. Somente então, poderemos elabora uma crítica coerente ao entendimento da moralidade tal como é.
A moralidade é um conceito abstrato que representa em si um conjunto de valores de caráter normativo, criados (e impostos) pelo Homem [¹]. É, acima de tudo, um construto humano. Ao que parece, o cumprimento de tais normas e costumes é condicional para o bom convívio social. Parto do princípio então, que sendo um conjunto de valores, e tais valores são variáveis de acordo com seu condicionamento, a moralidade também o é. Isto quer dizer que a moral é uma variável: embora tenha em si uma base, uma pré-disposição de ser, está condicionado invariavelmente ao meio por fatores como cultura, história, geografia, economia, política, entre outros aspectos. Em suma, a moral está condicionada a fatores externos, fatores da sua realidade sócio-cultural. Talvez um bom exemplo disso seja a condição da França como uma das nações que mais preservam os princípios de liberdade individual, provavelmente originário de sua História, com os ideários iluministas de liberdade e igualdade.
Um fator bastante curioso e que permite a moralidade um caráter quase que dogmático é a falsa imutabilidade da moral. Depois de condicionada e estabelecida, parece que a moral se torna uma espécie de tabu, ao qual ninguém ousa quebrar, garantindo assim a idéia absurda de que a moral é uma verdade absoluta. Assim sendo, o que há na verdade é a estagnação de um conceito que ainda se tem muito a ser discutido e pensado. A idéia, a construção do conceito simplesmente cessa, sustentando ainda mais a idéia irracional de imutabilidade da moral. Quando pararemos para refletir o por quê de conceitos quase medievais ainda estarem presentes em ensinamentos passados de pais para filhos nos dias de hoje?
O que deve ser pensado quanto à questão da falsa verdade absoluta da moralidade, é de que a moralidade é composta por valores, valores criados pelo Homem. Sendo assim, esse mesmo Homem tem a capacidade e o poder, talvez até mesmo o dever, de está sempre repensando em tais valores, avaliando sua aplicabilidade tendo em vistas nas mudanças sócio-culturais do mundo hoje. Ao Homem cabe o papel de Deus neste sentido: criar, recriar, destruir, reformular e moldar os valores, que são a ele vitais para o convívio social e entendimento do mundo. Não há Verdade imutável.
Tratando do aspecto do “como é a moralidade?”, é fundamental que entendamos qual a estrutura e quais as relações que constituem a moralidade. Em nossa sociedade atual, vivendo a era da informação, a moralidade se dá como regulador de normas e condutas sociais. Assim podemos nos indagar: moral individual ou coletiva? Individualmente, a moralidade age como um limitador de interesses e valores coerentes e aceitos pelo (in) consciente. Ou seja, desse ponto de vista, a moral age apenas sobre o Eu, restringindo de nossa mente (conseqüentemente, de nossa realidade) o que não nos é cabível ou aceito pela nossa mente (que pode agir assim consciente ou inconscientemente, mas tal tema corre ao âmbito da psicologia, não cabendo aqui).
De outro modo, a moral poderia agir de maneira coletiva, e é aí que reside o problema! Explicarei melhor: de forma coletiva, a moral deixaria de atuar sobre o Eu e tentaria impor-se aos demais, privando os outros indivíduos do direito de conceber para si sua própria concepção de moral. Entendam que não defendo Sodoma [²]; defendo sim, a queda da hipocrisia, que em sua forma menos repudiosa, se apresenta de modo destrutivo, intolerante, cega e que enaltece o ódio ao “infrator moral”, dando margem a verdadeiras patologias sociais, como o preconceito, racismo, intolerância religiosa, entre outras coisas. Além do mais, não defendo o fim da moral (tendo alguns dos valores que a compõe fundamentais para o estabelecimento de um futuro melhor), e sim sua reformulação conceitual com base na extinção da hipocrisia que nos envenena a cada nova geração.
Outro ponto de que gostaria de salientar é a diferença estrutura e conceitual entre senso moral e consciência moral. O senso moral é o conceito que define o que sentimos quando somos levados a agir em razão do próximo, agir pelos nossos valores éticos e ainda pelo sentimento de igualdade entre si e o próximo. Ou seja, o senso moral leva uma pessoa a agir inconscientemente diante de uma situação a qual é levado a prova seus sentimentos quanto ao próximo e seus valores sociais. Ao sentirmos piedade e solidariedade pelas vítimas das chuvas em Santa Catarina, e participamos de uma campanha de ajuda, estamos ponto em prática nosso senso moral. Além desses, sentimentos como compaixão e injustiça impulsionam o senso moral. Já a consciência moral atua na tomada de decisões relacionadas ao comportamento da pessoa, pois necessita tomar decisões relacionadas a si próprio e a outras pessoas, de forma que seja responsável por estas e ainda assuma as conseqüências de tais decisões. O discernimento promove a relação entre os meios e os fins que auxilia na distinção de reações morais e imorais.
Percebemos então, como sendo composta de valores (em sua maioria, corruptos em irracionais), a moralidade está sujeita a críticas, grande parte direcionada a seu caráter normativo e hipócrita. Por que hipócrita? Além das inúmeras discrepâncias referentes puramente ao conteúdo de sua série de normas de conduta, o mais importante é, sem dúvida, que a moralidade, tal como é hoje, é um veneno para o indivíduo racional! Sob a alegação do melhor bem-viver (que, estranhamente, exclui os grupos menos convencionais da sociedade), ela age como uma máscara para a realidade e para a verdadeira natureza do Homem, escraviza a consciência!
Acredito que o primeiro passo para a queda da hipocrisia da moralidade nos tempos de hoje seja, antes de tudo, o respeito a liberdade pessoal de cada indivíduo. Este é um fator condicional para este pretensa reforma. Argumentando com um amigo, este me disse: “Imagine, eu levando minha mulher e meus filhos para um restaurante e, chegando, na mesa do lado, dois homens começam a se beijar. Poxa, isso é uma agressão a minha liberdade!”. Eu, calmamente, perguntei “Em que sentido?”. “Oras, no sentido de que quero ter uma tarde tranqüila com meus filhos no restaurante e quando chego lá, vejo isso!”. Creio que este diálogo demonstre a que nível a moralidade envenena as pessoas.
Não respondi na hora, mas refletindo depois, pensei sobre a questão. Em que aquele casal homossexual estaria violentando a liberdade de uma tarde tranqüila de meu amigo e sua família? Ele, que nasceu em certo tempo e lugar, teve determinada educação e foi introduzida a determinada cultura e a algum pensamento religioso, se sentiu agredido com aquele ato, mas será que seu filho, que nasceu em um tempo diferentes, num lugar e cultura reformulados e foi educado de um modo completamente diferente, pensará do mesmo modo? Será que daqui a alguns 50 anos esse ato de um casal homossexual causará tanto impacto a uma outra família, também com fatores condicionais completamente diferentes?
Por esses e outros aspectos, reafirmo que a atual moralidade é um veneno! Reafirmo que ela escraviza a consciência e mascara a realidade. Para mudarmos esse quadro, é necessário trazermos a mesa novamente esses temas, de modo a agir como Deus e reformular a nossa realidade. Vimos como diversos fatores condicionam a atual situação de uma sociedade regida por uma moralidade hipócrita e corrompida! Entretanto, nenhum desses fatores é determinante, cabendo a nós a mudança, como sempre o foi. O entendimento da moralidade como um mal que nos torna cegos e nos envenena a cada é o primeiro passo para a mudança, e é isso que estamos tentando fazer.
"O medo é o pai da moralidade." - Friedrich Nietzsche
Começo minhas argumentações com uma afirmação provocante: a moralidade é um veneno! E por que? Pois bem, para discutirmos isso, se faz mister que passemos por todo o processo de atitude filosófica: o que é moralidade, como é a moralidade e porque é a moralidade. Somente então, poderemos elabora uma crítica coerente ao entendimento da moralidade tal como é.
A moralidade é um conceito abstrato que representa em si um conjunto de valores de caráter normativo, criados (e impostos) pelo Homem [¹]. É, acima de tudo, um construto humano. Ao que parece, o cumprimento de tais normas e costumes é condicional para o bom convívio social. Parto do princípio então, que sendo um conjunto de valores, e tais valores são variáveis de acordo com seu condicionamento, a moralidade também o é. Isto quer dizer que a moral é uma variável: embora tenha em si uma base, uma pré-disposição de ser, está condicionado invariavelmente ao meio por fatores como cultura, história, geografia, economia, política, entre outros aspectos. Em suma, a moral está condicionada a fatores externos, fatores da sua realidade sócio-cultural. Talvez um bom exemplo disso seja a condição da França como uma das nações que mais preservam os princípios de liberdade individual, provavelmente originário de sua História, com os ideários iluministas de liberdade e igualdade.
Um fator bastante curioso e que permite a moralidade um caráter quase que dogmático é a falsa imutabilidade da moral. Depois de condicionada e estabelecida, parece que a moral se torna uma espécie de tabu, ao qual ninguém ousa quebrar, garantindo assim a idéia absurda de que a moral é uma verdade absoluta. Assim sendo, o que há na verdade é a estagnação de um conceito que ainda se tem muito a ser discutido e pensado. A idéia, a construção do conceito simplesmente cessa, sustentando ainda mais a idéia irracional de imutabilidade da moral. Quando pararemos para refletir o por quê de conceitos quase medievais ainda estarem presentes em ensinamentos passados de pais para filhos nos dias de hoje?
O que deve ser pensado quanto à questão da falsa verdade absoluta da moralidade, é de que a moralidade é composta por valores, valores criados pelo Homem. Sendo assim, esse mesmo Homem tem a capacidade e o poder, talvez até mesmo o dever, de está sempre repensando em tais valores, avaliando sua aplicabilidade tendo em vistas nas mudanças sócio-culturais do mundo hoje. Ao Homem cabe o papel de Deus neste sentido: criar, recriar, destruir, reformular e moldar os valores, que são a ele vitais para o convívio social e entendimento do mundo. Não há Verdade imutável.
Tratando do aspecto do “como é a moralidade?”, é fundamental que entendamos qual a estrutura e quais as relações que constituem a moralidade. Em nossa sociedade atual, vivendo a era da informação, a moralidade se dá como regulador de normas e condutas sociais. Assim podemos nos indagar: moral individual ou coletiva? Individualmente, a moralidade age como um limitador de interesses e valores coerentes e aceitos pelo (in) consciente. Ou seja, desse ponto de vista, a moral age apenas sobre o Eu, restringindo de nossa mente (conseqüentemente, de nossa realidade) o que não nos é cabível ou aceito pela nossa mente (que pode agir assim consciente ou inconscientemente, mas tal tema corre ao âmbito da psicologia, não cabendo aqui).
De outro modo, a moral poderia agir de maneira coletiva, e é aí que reside o problema! Explicarei melhor: de forma coletiva, a moral deixaria de atuar sobre o Eu e tentaria impor-se aos demais, privando os outros indivíduos do direito de conceber para si sua própria concepção de moral. Entendam que não defendo Sodoma [²]; defendo sim, a queda da hipocrisia, que em sua forma menos repudiosa, se apresenta de modo destrutivo, intolerante, cega e que enaltece o ódio ao “infrator moral”, dando margem a verdadeiras patologias sociais, como o preconceito, racismo, intolerância religiosa, entre outras coisas. Além do mais, não defendo o fim da moral (tendo alguns dos valores que a compõe fundamentais para o estabelecimento de um futuro melhor), e sim sua reformulação conceitual com base na extinção da hipocrisia que nos envenena a cada nova geração.
Outro ponto de que gostaria de salientar é a diferença estrutura e conceitual entre senso moral e consciência moral. O senso moral é o conceito que define o que sentimos quando somos levados a agir em razão do próximo, agir pelos nossos valores éticos e ainda pelo sentimento de igualdade entre si e o próximo. Ou seja, o senso moral leva uma pessoa a agir inconscientemente diante de uma situação a qual é levado a prova seus sentimentos quanto ao próximo e seus valores sociais. Ao sentirmos piedade e solidariedade pelas vítimas das chuvas em Santa Catarina, e participamos de uma campanha de ajuda, estamos ponto em prática nosso senso moral. Além desses, sentimentos como compaixão e injustiça impulsionam o senso moral. Já a consciência moral atua na tomada de decisões relacionadas ao comportamento da pessoa, pois necessita tomar decisões relacionadas a si próprio e a outras pessoas, de forma que seja responsável por estas e ainda assuma as conseqüências de tais decisões. O discernimento promove a relação entre os meios e os fins que auxilia na distinção de reações morais e imorais.
Percebemos então, como sendo composta de valores (em sua maioria, corruptos em irracionais), a moralidade está sujeita a críticas, grande parte direcionada a seu caráter normativo e hipócrita. Por que hipócrita? Além das inúmeras discrepâncias referentes puramente ao conteúdo de sua série de normas de conduta, o mais importante é, sem dúvida, que a moralidade, tal como é hoje, é um veneno para o indivíduo racional! Sob a alegação do melhor bem-viver (que, estranhamente, exclui os grupos menos convencionais da sociedade), ela age como uma máscara para a realidade e para a verdadeira natureza do Homem, escraviza a consciência!
Acredito que o primeiro passo para a queda da hipocrisia da moralidade nos tempos de hoje seja, antes de tudo, o respeito a liberdade pessoal de cada indivíduo. Este é um fator condicional para este pretensa reforma. Argumentando com um amigo, este me disse: “Imagine, eu levando minha mulher e meus filhos para um restaurante e, chegando, na mesa do lado, dois homens começam a se beijar. Poxa, isso é uma agressão a minha liberdade!”. Eu, calmamente, perguntei “Em que sentido?”. “Oras, no sentido de que quero ter uma tarde tranqüila com meus filhos no restaurante e quando chego lá, vejo isso!”. Creio que este diálogo demonstre a que nível a moralidade envenena as pessoas.
Não respondi na hora, mas refletindo depois, pensei sobre a questão. Em que aquele casal homossexual estaria violentando a liberdade de uma tarde tranqüila de meu amigo e sua família? Ele, que nasceu em certo tempo e lugar, teve determinada educação e foi introduzida a determinada cultura e a algum pensamento religioso, se sentiu agredido com aquele ato, mas será que seu filho, que nasceu em um tempo diferentes, num lugar e cultura reformulados e foi educado de um modo completamente diferente, pensará do mesmo modo? Será que daqui a alguns 50 anos esse ato de um casal homossexual causará tanto impacto a uma outra família, também com fatores condicionais completamente diferentes?
Por esses e outros aspectos, reafirmo que a atual moralidade é um veneno! Reafirmo que ela escraviza a consciência e mascara a realidade. Para mudarmos esse quadro, é necessário trazermos a mesa novamente esses temas, de modo a agir como Deus e reformular a nossa realidade. Vimos como diversos fatores condicionam a atual situação de uma sociedade regida por uma moralidade hipócrita e corrompida! Entretanto, nenhum desses fatores é determinante, cabendo a nós a mudança, como sempre o foi. O entendimento da moralidade como um mal que nos torna cegos e nos envenena a cada é o primeiro passo para a mudança, e é isso que estamos tentando fazer.
"O medo é o pai da moralidade." - Friedrich Nietzsche
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