sábado, 21 de novembro de 2009

Sob o Sol...

As nuvens cinzentas ainda passeavam pelo céu nublado quando, mesmo sob os gritos de protesto de seu pai, pegou o colchão velho que fora seu e, levando-o para fora, esticou-o no quintal e deitou-se sobre ele. Queria apenas estar confortável para observar o céu e suas nuvens cinzentas, e assim o fez. Devagarzinho, vai abrindo os olhos, já que seus olhos eram sensíveis a excesso de luz. Mas quando, ainda em meio as lágrimas que escorriam involuntariamente dos olhos, ele pode enfim observar o céu, senti um frescor percorre-lhe o corpo. A chuva começava então a cair sobre ele e seu colchão velho.

Ali ficou por alguns minutos. Encharcado, mas não ligava muito. Queria dizer que estava feliz, mas não sabia se era isso que sentia ali, naquele momento. Nunca tivera muita certeza das coisas (o que acreditava ser bom, pois certeza é verdade e pra ele a verdade sempre foi muito relativa). Era uma sensação estranha, mas sentia que, de algum modo, era boa. Algo como uma libertação, ou qualquer outra palavra que exprima o abandono de algo e o recomeço... O exato momento em que você podia dizer que recomeçara.

Sente as lágrimas escorrerem de seus olhos novamente. Não pela luz do céu, não, não mais por aquela luz. Mas por uma outra luz, e essa vinha de dentro. Uma chama de esperança... Enfim, não procurava explicação para o que sentia, apenas sentia. Queria sentir, queria viver cada segundo daquilo. As lágrimas se misturavam às gotas de chuva em sua face, escorriam, iam... Era, sim, uma libertação.

A chuva passa, e vem o frio. Levanta-se calmamente, ainda com as roupas pesadas. Recolhe o colchão (agora, ensopado), e se vira para observar o céu. As nuvens ainda estavam lá, embora pudesse perceber um Sol, ainda que fraco, lutando com as massas cinzentas para poder aparecer. Era uma visão bonita, quase que como se Deus estivesse abrindo um canal direto com a Terra. Nesse mesmo instante, sente uma brisa de vento, arrepiando-o todo. Observa a si mesmo: roupas pretas encharcadas, descalço, descabelado. Suas mãos tremem. Olha pra baixo e vê a si mesmo na poça de água...

Olha de novo para o céu e compreende. Sim, a vida é feita disso. Finalmente entendeu que era pra ser assim, as coisas são assim e de novo será. É um novo viver, uma nova dimensão da vida e do que é viver. Sabe que não será tão fácil, que oscilará, que chorará, que sofrerá... Mas segue ainda assim, porque enfim entende que a vida é feita disso. E a cada obstáculo que supera, é uma lição aprendida e uma nova oportunidade de fazer certo.

Não pôde conter as lágrimas quando, após pensar em tudo isso, o Sol surgiu finalmente...

2 comentários:

  1. Uma libertação pueril.... É o que me passa esse texto. A desobediência saudável para buscar fora o que está dentro de si.
    ( alguém já escreveu isso.... )

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  2. Veeeei vc eh o meu herói!! Mais uma vez, me identifiquei com suas palavras, suas lindas e envolventes palavras! obrigada por mais uma vez, melhorar o meu diaa!! TE AMO!!

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