Em 14 de setembro de um ano qualquer...
À caríssima Srta. Braga,
Alguns de meus devaneios reflexivos.
Peço, minha querida, que me perdoe se for enfadonho. Mesmo que lhe pareça uma leitura tortuosa, suplico-lhe que vá até o fim, leia até o fim. Sim, desta vez lhe sobrecarregarei com minhas idéias psicóticas e insanas, mas apenas desta vez, prometo.
Peguei-me a pensar sobre o que o porquê de sermos tristes. Não me refiro somente a sermos tristes, mas como a necessidade da natureza humana de querer a tristeza. Sim, nós a queremos. Duvida? Então pense em quantas vezes, depois de se decepcionar, mesmo sabendo que deveria dar a volta por cima, seguir em frente (e com todos aqueles que se importam contigo dizendo o mesmo) você optou por continuar a sofrer e se martirizar, nem que seja mais um pouquinho. Não entendeu? Quando, mesmo levantando a cabeça pra continuar em frente, você coloca, propositalmente, aquela música que a faz pensar em sua dor. Isso é uma forma de martírio, de tortura, de autoflagelação psicológica e, acima de tudo, uma opção por desejar a tristeza.
Sejamos sinceros, se não soasse absurdo, poderíamos até dizer que é “bom” estar triste. Sim, isso mesmo. Quando as pessoas lhe dão mais atenção, (aparentemente) se importando contigo; quando você pode usar a tristeza como desculpa para fugir da dieta (“só vou comer chocolate porque estou deprimido”); quando você encontra uma desculpa para não fazer nada, apenas deitar na cama, ouvir músicas tristes e olhar para o teto pensando em porque Deus te odeia; quando você pode justificar aquela nota ruim na última prova.
Agora, e quando queremos estar tristes por não sabermos como é uma vida de felicidade? Pelo menos, uma vida de felicidade sem o motivo que a deixa triste. Explicarei melhor.
Quando perdemos algo (alguém) que nos é muito importante, sofremos muito por isso. Ficamos tristes, muito tristes, e pensamos que já não faz mais sentido sem aquilo (ele/ela). Então nós queremos continuar tristes, ainda neste estado depressivo, com medo de sair dele e se deparar com uma realidade totalmente nova: sua vida sem aquilo. É o mesmo que uma telefonista que ama sua profissão e trabalha nela a muitos anos. De uma hora para outra, a empresa a demite, e ela fica destruída. Então, ao atender o telefone em casa, ela se pega dizendo “Empresa ‘tal’, aqui é Fulana falando, em que posso ajudá-lo?”. Ela terá que reaprender a dizer somente “alô”, e isso a assusta. Foram longos e felizes anos, fazendo algo que amava, e atendendo sempre o telefone da mesma forma (coisa que ela adorava), e de repente, sua realidade muda. Ela deve seguir em frente, sem dúvida, mas ela tem o não o direito de ter medo?
Dor, tristeza, tortura psicológica. Não sabemos o quanto sofrer, mas sabemos que o sofrimento é inevitável. Aponte-me um Homem que viveu sua vida na mais pura felicidade e alegria, e lhe darei uma bala. Sofrer não é uma opção, mas continuar a sofrer é. Todo dia travamos uma batalha contra nós mesmos, e essa é mais uma. Embora seja “ótimo” continuar no fundo do posso, olhar pro horizonte e seguir em frente é a melhor opção para que possamos (tentar) viver.
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(escrito em 14 de setembro de 2009)
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