Andando pelas ruas sujas da cidade, já são algumas horas da manhã. Um chuvisco cai, deixando lama na sola dos meus sapatos velhos, e eu estou andando. Pra onde mesmo? Ah, lembrei. Continuo o caminhar na rua de paralelepipdos molhados, enquanto meu casaco fica cada vez mas molhado.
De repente, me deu uma vontade louca de largar tudo. Simples assim. Largar tudo, pegar um ônibus e ir pra um lugar onde eu possa sentar, olhar as coisas, ficar só com meus pensamentos. Não em casa, não quero ir pra casa, mas pra um lugar, um parque, um centro cultural, um metrô, sei lá, qualquer lugar serve. Queria largar tudo porque, só por hoje, nada mais importa. Viver não importa, meu futuro não importar, nem mesmo essa minha irritante febre (agravada pela garganta inflamada e pelo resfriado) não importa. Só o que importa hoje é não se importar com nada. Nada disso importa.
A chuva continua a cair, eu continuo meu caminho. O desejo de partir se foi, durou menos de segundos. No ponto, antes de pegar o ônibus, uma chuva de água escura me molha da cabeça aos pés, jogadas por algum motorista muitíssimo educado e que se esforçou grandemente para não sujar as pessoas no ponto de ônibus. Preciso dizer que adorei?
Pego o ônibus, sento-me no fundo e observo as pessoas. Algumas parecem felizes, outras nem tanto, outras irritadas, outras apáticas. Uma menininha de uns 4 ou 5 anos entra e senta ao meu lado. Ela olha pra mim e sorri. Eu, em um esforço desumano, retribui o sorriso, pois aquele sorriso me pareceu de tal forma mágico que deveria dar o meu melhor num largo sorriso.
- Qual é o seu nome? - ela me pergunta rindo.
- Eduardo. E o seu?
- É Amanda. Com "A", "M", "A", "N"... "D", "A". - ela disse, parecendo orgulhosa de ter conseguido soletrar o nome.
- Nome muito bonito - disse sorrindo.
- O seu também é. Eu gosto.
Logo em seguida, a mãe pediu desculpas pelo atrevimento (?) da menina e desceu do ônibus. Ela acenou pra mim do lado de fora, enquanto o ônibus partir.
Estranho, mas aquela conversa simples com Amanda fez meu dia parecer diferente. Talvez a sua alegria gratuita, sem esperar nada em troca, ou sua inocência, ou mesmo sua espontaneidade. De qualquer modo, fiquei com a imagem na cabeça da Amanda acenando pra mim de fora do ônibus..
Cheguei ao meu destino: minha antiga escola. As coisas por aqui parecem não mudar. Garotinhas histéricas correndo pra cima e pra baixo, garotos que só sabem falar das garotinhas histéricas, gritos, gritos, sinal do intervalo, funcionários grosseiros.. É, as coisas por aqui realmente não mudam. Meus amigos já se foram, não conheço mais ninguem, mas é estranho como o rosto deles parecem tão familiares, como se fossem os mesmo que estudaram em minha época, embora soubesse que eram outras pessoas, mas que agiam do mesmo jeito.
Olhar pra lá me deu uma certa sensação de nostalgia. Me senti tão superior, tão adulto, tão diferente do que costumava ser quando corria pelo pátio a poucos anos atrás. Não sei se isso é bom ou ruim, talvez seja bom. As coisas são diferentes, e parece que, só por hoje, nada importa.
A chuva continuava a cair.
Por que não levei um guarda-chuva?
Tenho medo de esquecer seu rosto
Há uma semana
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